A HISTÓRIA DA ARQUITETURA- JONATHAN GLANCEY

   Acabou de sair este livro, bastante ilustrado, que engloba de forma simples e direta, toda a história da arquitetura. Desde a Mesopotâmia até o século XXI. Algumas fotos são de tirar o fôlego, outras são enervantes. A pior das imagens é uma que mostra o centro de São Paulo. O inferno feito pelo homem. Não é um lugar para gente viver, é uma máquina de trabalhar e de dormir, um kaos que obriga a que os humanos à ele se adaptem e não o inverso, que seria o correto.
   Impossível destacar a mais bela construção. A MESQUITA DE DJENNE,  em Mali, do século XIV, toda feita em tom de areia queimada, tem o visual de uma construção de outro planeta. Todo seu desenho lembra filmes de sci-fi, um monumento à invenção dos homens. E se SP é o inferno, a VILLA DE ADRIANO pode ser o paraíso. Dificil existir algo de mais bonito feito por nós. Colunas, estátuas e água formando um ambiente de absoluta paz e de harmonia celeste. Eis um ambiente onde tudo convida a felicidade.E o que dizer de CHARTRES, uma gloriosa tentativa de se alcançar a Deus. Uma afirmação de que nada somos e que tudo fazemos para ser mais que esse nada. A arte perdida de se tecer em pedra. Pedra que se faz renda e renda que se faz luz. O PALAZZO DEL TE em Mântua, ícone do renascimento, a beleza sóbria, limpa, refinada, brancos e ocres, retidão e curvas perfeitas, um convite ao olhar sem fim.... Posso ficar aqui por linhas e mais linhas falando das maravilhas que existem aqui. Mas faço questão de citar textualmente um trecho da introdução. Para mim ninguém define melhor a arquitetura:
   " No inicio do século XXI há muito mais pessoas e exponencialmente arquitetos do que já houve em qualquer outro tempo. Isso certamente não levou a um aumento na qualidade da arquitetura. Por que? Porque não construimos mais para ligar a humanidade a Deus ou para dar sentido a nosso lugar no Cosmos, mas por qualquer uma das razões banais, mundanas, vaidosas e lucrativas que reduzem a arquitetura a um empreendimento vulgar e terreno. É paradoxal que JUSTAMENTE NA ÉPOCA DA HISTÓRIA EM QUE A TECNOLOGIA PERMITE QUE AS CONSTRUÇÕES SEJAM MAIS EMOCIONANTES DO QUE NUNCA, EXISTAM TANTAS QUE SEJAM TÃO INSÍPIDAS E DEGRADANTES. Na verdade, o papel do arquiteto decaiu. Para sobreviver, para continuar a entusiasmar como fizeram as grandes mesquitas e templos ao longo dos milênios, os arquitetos precisam redescobrir o campo elevado da imaginação, ser os xamãs e os mágicos que seus predecessores foram antes da revolução industrial, quando construir tornou-se fácil demais..... mas naturalmente temos a arquitetura que merecemos. Se queremos naturalmente VIVER VIDAS BANAIS, ENTÃO O MUNDO SEM ARTE DO SHOPPING CENTER, O MUNDO DO PARQUE TEMÁTICO E DO CENTRO DE LAZER, O MUNDO FURTIVO DO CONDOMINIO FECHADO, COM SUAS 3 GARAGENS PROJETADAS EM PÚDICOS ESTILOS TRADICIONAIS, JUNTAMENTE COM O MUNDO DOS ESTACIONAMENTOS COMERCIAIS...É uma grande distância dos deuses e da arquitetura como gostaríamos que fosse. Uma história que foi contada a 10.000 anos."
   A magnífica grandesa do homem. A ansiosa busca por Deus. A afirmação de uma inteligência. A magia do inesperado. Glancey nos mostra que isso ainda existe no mundo de hoje. Mas se torna cada vez mais excessão, e não regra. Nossa arquitetura, pelo contrário, tem afirmado a insignificãncia do homem, a negação do divino e o tédio da preguiça. Se deslumbrar com a beleza dessas fotos e com o texto de Glancey é entender o porque do erro e onde pode estar a solução.
   Somos onde vivemos. Pense nisso. O banal é lar de mentes banais. O confuso dá nascimento a confusão, o medíocre cria mediocridade e o insípido é lar de insipidez. O brasileiro tem por tradição dar pouco valor ao visual de suas casas. Por que? Caixas com grades onde o carro da familia toma o lugar do jardim. Apartamentos clean onde não há espaço para se receber amigos. Decoração tecnológica onde nada é criativo e nada tem a marca do caráter de quem lá vive. Casas sem nada que revele uma história, uma alma. Casas que poderiam ser de qualquer um. Casas anônimas. Quem vive nelas? Anônimos.
   Somos onde vivemos.