Como diz a autora, os anos 70 dão a sensação de que jamais existiram. Para quem viveu neles, as lembranças se parecem com sonho, são todas irreais, como se tudo aquilo tivesse acontecido em um não-mundo e em um não-tempo. E para quem nasceu depois, fica a impressão de que a década foi um tipo de parque de diversões brega. Foi. Nenhuma década se parece com ela.
O que se pode dizer de um tempo que teve o punk rock e o Abba? A seleção da Holanda e Fio Maravilha? Idi Amim Dada e Margaret Thatcher? Foi no minimo divertido pacas! Não que Idi Amin fosse divertido, mas a diversidade de lideres era absurda e absorvente. Aliás, ainda existia essa coisa chamada liderança. A crise da Europa é acima de tudo uma crise de homens. Um Churchill ou um De Gaulle dariam jeito na bagunça. Depender de um playboy francês e de uma burocrata alemã é o kaos.
Os anos 70 foram tão esquisitos que Stanley Kubrick era sucesso pop. E as pessoas iam no cine Iguatemi ver filmes com sexo explicito. Lixos como Caligula ou Histoire D'O. O cinema da década é muito esquizo. Hoje existem filmes esquisitos ainda, mas nos 70 eles eram sucessos de público. A década ia de Star Wars e Inferno na Torre a Taxi Driver e Um Dia de Cão. Woody Allen, Al Pacino, Coppolla e Scorsese são a cara da época. Assim como Jack Nicholson, De Palma e Spielberg. O cinema ali virou um cada um por si.
Foi a década do eu. É quando as pessoas deixam de seguir gurus e passam a fazer "análise". Os analistas nunca foram tão pop. E os astrólogos também. Foi o tempo que criou a ditadura do desejo. Liberar os seus quereres. Transar o sexo numa boa. E tome swing e gay power.
O que dizer de um tempo que criou a pornochanchada e os Secos e Molhados? Que tinha Clint Eastwood e os Dzi Croquettes? Na verdade os anos 70 inventaram o século XXI. Do mundo interligado à música sintética, tudo foi criado aqui. Inclusive os anti-depressivos.
Topless nas praias e a praga da cocaína. Tanguinhas e as primeiras celebridades que são famosas por serem famosas. Mas ao mesmo tempo havia Milan Kundera, Italo Calvino e Saul Bellow. Escritores sérios eram ainda muito pop. Philip Roth era uma estrela. John Updike também. E Capote era uma celebridade.
No Brasil a TV´passou a ser rei. E os enlatados dominavam. Enlatados eram séries made in USA. O futebol do Rio ainda era o melhor e o basquete brasileiro era um dos top 5 do planeta. Tempo das costeletas de Emerson Fittipaldi e de várias mortes nas pistas.
Uma década onde se usava sapato plataforma e camisa justa pinky não pode ser séria. Lapelas imensas e saias de cigana. Não se procurava a elegãncia sóbria, se desejava o fun. O exuberante excessivo.
Os Z-Boys criaram o skate profissional e os australianos o surf moderno. Mark Richards, Cheyne Horan, Ian Cairns. E o rock de estádio nasce com o Queen. E o Aerosmith. E Van Halen. O que dizer de um tempo que criou Bruce Springsteen e o Village People? Kraftwerk e Kiss.
Drogas eram tudo. Mesmo para quem não sabia o que era droga. Porque nas cores dos móveis ( minha mãe tinha um quarto todo roxo com luminárias vermelhas, voce ficava doidão só de entrar nele ), e nos desenhos infantis ( os Bugaloos ou Hardy Boys ), tudo era como uma viagem drogada. A década parecia ser escrita por algum roteirista junky.
E nessa levada, as pessoas viviam da pura euforia à mais absurda deprê ( que se chamava bode ). E ficavam muito na rua. Era a época em que balada era ficar caminhando pelas ruas cheias de bares, a pé, entrando em todos e não ficando em nenhum ( quando saio eu ainda hoje tento fazer isso ). No fim da década, com a disco, é que veio essa coisa de se enfiar num clube e passar toda a noite trancado.
O que dizer de um tempo que teve Benito di Paula e Raul Seixas? Lixo nunca foi tão luxo. E arte nunca foi tão profana. O grafiti e o rap nascem aqui também.
O primeiro filme "sério" de HQ ( Superman ) e o primeiro filme adulto de sci-fi ( Aliens ); e na TV o Saturday Night Live. Além do Muppet Show e Columbo. Que mais voce pode querer? Chacrinha !
Ainda não havia silicone. As mulheres tinham o corpo da Rose di Primo, cheio de curvas e muuuuuito bronzeado. E os homens mais desejados eram como Robert Redford, magros e nada malhados.
A autora lembra de uma coisa esquecida: brinquedos eram pra fazer a criança se mover. Nada de coisas pra ficar parado. Brinquedos pra ir pra rua. Ou pelo menos pro quintal. Foi a última década de quintais.
O que dizer de um tempo em que as torcidas nos estádios não eram divididas? E em que o comunismo ainda era "o futuro"? A giria mais usada era "um barato". E eu pegava carona na avenida Paulista. Era um barato, um sarro, alucinante, odara. Voce parava na janela do carro e dizia: " E aí cara? Vai uma carona?"
Quem viveu os anos 70 se apaixonou pelo tempo. Taí esse monte de filmes passados naquela época, filmes de diretores apaixonados por aquilo tudo. Desde Boogie Nights passando por Quase Famosos, Dazed and Confused e Crazy. Aliás Tarantino vive nela até hoje, Todos os seus filmes são 70's.
Ter tido 12, 14 anos em 1976, 1978, e ter ido às bancas comprar Mad ou Homem-Aranha, montado numa Caloi 10, usando uma camiseta Hang Ten, com tênis Bamba e os longos cabelos descoloridos ao vento... De bermuda de calça jeans cortada e com More Than a Feeling na cabeça... Que baratão!
Mas....aquilo tudo foi real??? Um presidente como Jimmy Carter, ele existiu? Clóvis Bornay e Asdrúbal Trouxe o Trombone, foram pra valer? Não foram delirios de mentes cheias de peyote?
É doido isso. Para todos nós, os anos 70 parecem sempre ontem, enquanto os anos 80 parecem muito antigamente e a década de 90 se parece com algo muito distante. Os 80 e os 90 têm um aspecto de vida muito real, de coisa sólida, e portanto mortal. Já os 70 ao se parecer com delirio escapam dessa temporalidade. Não foi um tempo, foi como um parente maluco. Ele morreu, mas tá aqui.
Que bem louco!
Uma década que nos deu Boney M e Kevin Ayers.... dizer o que? Viva o excesso!
O que se pode dizer de um tempo que teve o punk rock e o Abba? A seleção da Holanda e Fio Maravilha? Idi Amim Dada e Margaret Thatcher? Foi no minimo divertido pacas! Não que Idi Amin fosse divertido, mas a diversidade de lideres era absurda e absorvente. Aliás, ainda existia essa coisa chamada liderança. A crise da Europa é acima de tudo uma crise de homens. Um Churchill ou um De Gaulle dariam jeito na bagunça. Depender de um playboy francês e de uma burocrata alemã é o kaos.
Os anos 70 foram tão esquisitos que Stanley Kubrick era sucesso pop. E as pessoas iam no cine Iguatemi ver filmes com sexo explicito. Lixos como Caligula ou Histoire D'O. O cinema da década é muito esquizo. Hoje existem filmes esquisitos ainda, mas nos 70 eles eram sucessos de público. A década ia de Star Wars e Inferno na Torre a Taxi Driver e Um Dia de Cão. Woody Allen, Al Pacino, Coppolla e Scorsese são a cara da época. Assim como Jack Nicholson, De Palma e Spielberg. O cinema ali virou um cada um por si.
Foi a década do eu. É quando as pessoas deixam de seguir gurus e passam a fazer "análise". Os analistas nunca foram tão pop. E os astrólogos também. Foi o tempo que criou a ditadura do desejo. Liberar os seus quereres. Transar o sexo numa boa. E tome swing e gay power.
O que dizer de um tempo que criou a pornochanchada e os Secos e Molhados? Que tinha Clint Eastwood e os Dzi Croquettes? Na verdade os anos 70 inventaram o século XXI. Do mundo interligado à música sintética, tudo foi criado aqui. Inclusive os anti-depressivos.
Topless nas praias e a praga da cocaína. Tanguinhas e as primeiras celebridades que são famosas por serem famosas. Mas ao mesmo tempo havia Milan Kundera, Italo Calvino e Saul Bellow. Escritores sérios eram ainda muito pop. Philip Roth era uma estrela. John Updike também. E Capote era uma celebridade.
No Brasil a TV´passou a ser rei. E os enlatados dominavam. Enlatados eram séries made in USA. O futebol do Rio ainda era o melhor e o basquete brasileiro era um dos top 5 do planeta. Tempo das costeletas de Emerson Fittipaldi e de várias mortes nas pistas.
Uma década onde se usava sapato plataforma e camisa justa pinky não pode ser séria. Lapelas imensas e saias de cigana. Não se procurava a elegãncia sóbria, se desejava o fun. O exuberante excessivo.
Os Z-Boys criaram o skate profissional e os australianos o surf moderno. Mark Richards, Cheyne Horan, Ian Cairns. E o rock de estádio nasce com o Queen. E o Aerosmith. E Van Halen. O que dizer de um tempo que criou Bruce Springsteen e o Village People? Kraftwerk e Kiss.
Drogas eram tudo. Mesmo para quem não sabia o que era droga. Porque nas cores dos móveis ( minha mãe tinha um quarto todo roxo com luminárias vermelhas, voce ficava doidão só de entrar nele ), e nos desenhos infantis ( os Bugaloos ou Hardy Boys ), tudo era como uma viagem drogada. A década parecia ser escrita por algum roteirista junky.
E nessa levada, as pessoas viviam da pura euforia à mais absurda deprê ( que se chamava bode ). E ficavam muito na rua. Era a época em que balada era ficar caminhando pelas ruas cheias de bares, a pé, entrando em todos e não ficando em nenhum ( quando saio eu ainda hoje tento fazer isso ). No fim da década, com a disco, é que veio essa coisa de se enfiar num clube e passar toda a noite trancado.
O que dizer de um tempo que teve Benito di Paula e Raul Seixas? Lixo nunca foi tão luxo. E arte nunca foi tão profana. O grafiti e o rap nascem aqui também.
O primeiro filme "sério" de HQ ( Superman ) e o primeiro filme adulto de sci-fi ( Aliens ); e na TV o Saturday Night Live. Além do Muppet Show e Columbo. Que mais voce pode querer? Chacrinha !
Ainda não havia silicone. As mulheres tinham o corpo da Rose di Primo, cheio de curvas e muuuuuito bronzeado. E os homens mais desejados eram como Robert Redford, magros e nada malhados.
A autora lembra de uma coisa esquecida: brinquedos eram pra fazer a criança se mover. Nada de coisas pra ficar parado. Brinquedos pra ir pra rua. Ou pelo menos pro quintal. Foi a última década de quintais.
O que dizer de um tempo em que as torcidas nos estádios não eram divididas? E em que o comunismo ainda era "o futuro"? A giria mais usada era "um barato". E eu pegava carona na avenida Paulista. Era um barato, um sarro, alucinante, odara. Voce parava na janela do carro e dizia: " E aí cara? Vai uma carona?"
Quem viveu os anos 70 se apaixonou pelo tempo. Taí esse monte de filmes passados naquela época, filmes de diretores apaixonados por aquilo tudo. Desde Boogie Nights passando por Quase Famosos, Dazed and Confused e Crazy. Aliás Tarantino vive nela até hoje, Todos os seus filmes são 70's.
Ter tido 12, 14 anos em 1976, 1978, e ter ido às bancas comprar Mad ou Homem-Aranha, montado numa Caloi 10, usando uma camiseta Hang Ten, com tênis Bamba e os longos cabelos descoloridos ao vento... De bermuda de calça jeans cortada e com More Than a Feeling na cabeça... Que baratão!
Mas....aquilo tudo foi real??? Um presidente como Jimmy Carter, ele existiu? Clóvis Bornay e Asdrúbal Trouxe o Trombone, foram pra valer? Não foram delirios de mentes cheias de peyote?
É doido isso. Para todos nós, os anos 70 parecem sempre ontem, enquanto os anos 80 parecem muito antigamente e a década de 90 se parece com algo muito distante. Os 80 e os 90 têm um aspecto de vida muito real, de coisa sólida, e portanto mortal. Já os 70 ao se parecer com delirio escapam dessa temporalidade. Não foi um tempo, foi como um parente maluco. Ele morreu, mas tá aqui.
Que bem louco!
Uma década que nos deu Boney M e Kevin Ayers.... dizer o que? Viva o excesso!