ÁGUA, SOL E ARQUITETURA

   Wallace Stevens, um dos 3 melhores poetas do último século, tem uma imagem maravilhosa. Ele imagina o fim do pensamento. O que haveria no fim. A maioria das pessoas falaria numa parede. Ou uma porta. Um abismo. Depende da criatividade de cada um. Stevens imagina que ao fim do pensamento, no final do novelo de ideias, lembranças, possibilidades, medos e desejos, existe uma Palmeira balançando ao vento.
   Pense então. Em meio ao siêncio o suave barulho das folhas e do vento. O azul do céu ao fundo e a sombra dessa palmeira sobre a areia que é amarela. E ela está ao final de tudo.
   Sol e água, Água e sol. Eu penso que toda a felicidade da vida pode se resumir nessas duas entidades. Toda a alegria vem do sol e toda vida da água. Sem o sol e sem a água, a morte.
   No livro de arquitetura que leio o autor diz que toda a história da arquitetura se resume à combinação de luz e de sombra. Edificar bem é saber usar essa combinação. Ele cita os árabes, os palácios e mesquitas da Espanha como o mais elevado grau arquitetônico atingido. Colunas criando sombra nos jardins que jorram água e alimentam plantas. Deleite para os olhos ( sol e sombra ), deleite para os ouvidos ( água ) e para o olfato ( plantas e água ).
   Um pedaço de parede de Pompéia. Azul claro celeste e vermelhos ocres. Cores nas paredes que abriam a vida de seus moradores para o que está lá fora. Arquitetar é abrir para fora, é deixar a vida entrar. Sol e água. Sol e chuva. E lagos e fontes e córregos. As paredes de Pompéia anunciam sol e oliveiras e palmeiras e muita água. Anunciam gente que bebe vinho e carrega água em garrafas grandes. Peles que se bronzeiam entre panos claros. E aqueles azuis únicos nas lascas das paredes preservadas.
   São Paulo esconde a água debaixo do asfalto. E emporcalha o rio que resta. São Paulo ensombreia o sol nas sombras dos prédios que matam o céu. Feio, sujo, escuro, e muito seco.
   E a Palmeira dança ao fim de tudo.