STEVE MCQUEEN, O REI DO COOL ( O VERDADEIRO INVENTOR DO QUE CHAMAMOS DE HERÓI )

   No documentário que vi ontem sobre Steve,  há o depoimento de várias pessoas que trabalharam com ele. Lawrence Kasdan nunca teve essa honra, mas, representante da nova geração, ele diz que TODOS os atores de filmes de ação de agora estudam BULLIT, filme de 1968 com Steve, estudam BULLIT centenas de vezes. Eles estudam o modo como Steve olha, o jeito de abrir a porta de um carro, a maneira de andar, de ouvir, e principalmente: como ser cool. De Daniel Craig a Hugh Jackman, de Jason Statham a Clive Owen, todos têm Bullit como sua Bíblia.
   Voce podia achar que esse cara fosse Clint Eastwood. Mas não é. Eu sou louco por Clint, então posso falar com conhecimento, Steve McQueen era um Clint melhor. Melhor como ator. Clint sempre parece falso. Há algo de irônico nele que o distancia de seus filmes, ele se torna frio demais. E além disso, seus momentos de raiva sempre parecem exagerados, quase caricatos. Mesmo assim Clint é sempre uma estrela, um carisma dos velhos tempos, do tipo Gregory Peck ou Gary Cooper. Steve ( e ambos nasceram no mesmo ano, 1930, se vivo Steve teria a idade de Clint ), era mais moderno. Ele nunca parece um ator da velha Hollywood, ele sempre nos lembra que estamos vendo alguém pós-Brando. E quando ele entra na tela a coisa explode. Seus olhos saltam do filme e invadem a sala. Steve McQueen entra em cena e não tem pra mais ninguém, ele roubou cenas de astros como Paul Newman, Frank Sinatra, Dustin Hoffman e Yul Brynner, sem abrir a boca, apenas estando em cena, sem fazer nada, sendo cool.
   A palavra cool, assim como a palavra elegância, tem sido raptada pela midia e transformada naquilo que o produto requer. Mas em sua verdadeira acepção, cool é Steve McQueen em THE GREAT ESCAPE ( cujo personagem se chama Cooler ). É o cara calado, só, que se fode e não perde a pose. Voce pode bater nele, prendê-lo, pressioná-lo ao máximo que ele vai se manter frio, não vai perder a postura. Mas a isso, Steve McQueen adicionou a sensação de que a qualquer momento ele iria explodir. Mas, e é isso que faz dele o rei do cool, essa explosão JAMAIS acontece.
   Ele foi rejeitado. Nasceu em interior pobre filho de mãe solteira. A mãe deixou-o com um tio e se mandou. Depois ela voltou quando ele tinha 15 anos. Steve roubou um carro e a mãe o delatou deixando-o numa instituição de correção. Aos 18 ele foi para os Fuzileiros Navais, experiência que ele adorou. Lá, conseguiu uma bolsa de estudos para qualquer curso que escolhesse. Ele escolheu o curso de teatro, porque era lá que as mulheres estavam. Vivendo em New York, livre, Steve arrasou. Ele transava com todas as mulheres que desejava. Mas logo conheceu uma bailarina ( Nelie ) que foi sua primeira esposa e mãe de seus dois filhos. No inicio muito mal ator, Steve aprendeu a olhar, a escutar, a usar seus olhos perturbadores. Entrou numa série de Tv e lá se tornou O Cara. No cinema, após várias figurações, faz um sci-fi cult ( A Bolha ) e num filme com Frank Sinatra, em papel pequeno, rouba a cena. ( Frank gostou dele, não se importou de ter seu filme roubado. Foi o encontro do rei do cool ( Steve ) com o inventor do cool ). Em 1960  veio outro papel pequeno, e outro filme em que todos só olhavam pra ele. E em 63 THE GREAT ESCAPE, um dos 3 filmes favoritos de Tarantino, e o evento que fez dele o ator mais famoso dos anos 60. Em meio a Paul Newman, Warren Beaty, Brando, Sean Connery, Peter O'Toole e Richard Burton, quem dava as cartas era Steve.
   Brilhou então em THE CINCINATTI KID, talvez o melhor filme sobre poker já feito, em NEVADA SMITH e no CANHONEIRO DO YANG-TSÉ. Em 68, Bullit. BULLIT é o filme de ação que cria o moderno filme de ação: poucos diálogos, história irrelevante, herói quase antipático, nada de gracinhas, aspecto de sujeira nas ruas e nos sets. Toda a ênfase vai para o clima e para as explosões de adrenalina. O filme, maravilhoso, tem a mais mítica das cenas de perseguição de carros e Steve está no auge de seu talento. A gente fica hipnotizado por ele.
   Em seguida veio Sam Peckimpah e o começo do fim. Drogas, sexo e bebidas. Steve rouba do dono da Paramount "apenas" a esposa. Ali MacGraw vinha do sucesso de Love Story e formava com Robert Evans o casal mais poderoso de Hollywood. No filme de Peckimpah ela e Steve se apaixonam. Foram morar juntos. Evans nunca se recuperou. E Steve ainda fez PAPILLON, onde rouba o filme do grande ladrão de filmes Dustin Hoffman ( Steve adorou Dustin. Achava-o o cara mais esquisito do mundo ), e INFERNO NA TORRE, onde a vitima de seu carisma foi Paul Newman. Dois big sucessos.
   O casamento com Ali durou apenas 5 anos. Em 1976 ele se casou pela terceira e última vez. Perdeu o interesse pelos filmes, se isolou com a familia ( familia é o que ele sempre desejou ter ). Em 1980 morreu de câncer. Eu ainda lembro da noticia no Jornal Nacional dada por Cid Moreira, em Outubro. Uma longa matéria sobre Steve.
   O cinema dos anos 80 perdeu Steve McQueen. Talvez ele tivesse feito filmes com Clint Eastwood, com Harrison Ford ou Eddie Murphy ( roubaria todos os filmes ). Certo é que quando morreu ele tinha a proposta de fazer RAMBO. Sim, esse filme poderia ter sido feito por Steve, o que faria do personagem uma coisa totalmente diferente. Steve McQueen, se vivesse tanto quanto Clint, estaria aqui hoje. Tarantino poderia o escalar, não precisaria tentar fazer de Travolta ou de Carradine aquilo que eles nunca foram. E o desenho CARROS poderia ter o personagem McQueen feito pelo próprio.
   Não falei da paixão de Steve pelas motos e pelos carros, de como ele adorava voar com essas motos e viver sempre no limite. Deixo a fala final para seu filho: "Meu pai viveu 50 anos. Cinquenta que na verdade foram cem."  De órfão a delinquente juvenil, de bad boy conquistador a doido dos anos 60, de super estrela do cinema a fazendeiro, de piloto de moto ( ele disputou provas ) a playboy, Steve McQueen foi várias coisas e sempre foi ele mesmo. O rei do cool.