WHITE HUNTER BLACK HEART- CLINT EASTWOOD

   Em 1950 John Huston se mandou pra África. A ideia era filmar em locações reais THE AFRICAN QUEEN, tendo Kate Hepburn e Bogart no elenco. Mas o que Huston queria mesmo era caçar elefantes. Peter Viertel foi um dos roteiristas do filme, e depois do lançamento da pelicula ( que deu Oscar de ator a Bogey e fez um grande sucesso ), editou um romance sobre os bastidores da obra. É considerado um dos grandes livros sobre cinema. Em 1989 Clint Eastwood fez um filme sobre o livro de Viertel. É excelente.
   Acompanhamos John Wilson ( Huston ) da Inglaterra, em seu palácio ( mas apesar desse luxo, trata-se de um homem falido ), até a África. E o que vemos é a exposição detalhada de uma filosofia de vida: Só vale a pena na vida aquilo que põe em cheque tudo o que voce já tem. Só vale conhecer aquilo que vai contra o que voce conhece. E a felicidade só pode ser achada onde o risco absoluto mora. Clint Eastwood interpreta de verdade aqui, faz um trabalho de ator. O modo como ele segura o cigarro, o tipo de riso, a tosse seca, é tudo John Huston. O filme é um estudo sobre essa personalidade, sobre suas manias, sobre sua loucura. Mais que isso, ele exibe o tipo de Homem-sem-medidas, um tipo de macho pré-dietas, pré-feminismo, um ser inconsequente, desbocado, sem firulas. John quer o que quer, pouco liga para o que seria correto fazer. E sempre paga por isso, sem culpar alguém. É uma figura realista, desencantada, desiludida, que nada espera da vida a não ser poder viver.
   No filme ele diz várias vezes que a melhor arte é simples. Que Stendhal, Flaubert eram simples. Não se engane, ser simples não significa ser simplório; ser simples é ir ao que realmente importa, não enrolar com falsas ilusões, sempre atacar o cerne das coisas. Para John o ser simples é pensar sempre em vida e morte. O que tem valor é essa oposição/complitude: viver e morrer. Todo o resto é fantasia. Por isso a caça, o risco, a falta de cuidado.
   François Truffaut quando critico de cinema adorava falar mal de Huston. Para o francês, era ele o pior diretor do mundo. Um cineasta sem estilo, que fazia filmes sem paixão pelo cinema. Truffaut errou. Ele, cineasta que vivia só para os filmes e as mulheres, jamais poderia compreender o cinema de alguém que não vivia para os filmes e as mulheres. Antes do cinema e dos casamentos, John colocava várias coisas. Viajar, apostar, caçar, escrever, brigar, pintar. E é delicioso ( para um certo tipo de expectador ), ver Clint Eastwood/John Huston se mover, falar, brigar, mandar tudo à merda, rir, xingar e começar a dirigir seu filme. Errar todo o tempo, mas  como ele diria: "Por Deus, que magníficos erros!"
   Não é o melhor filme de Clint, mas nenhum outro de seus filmes me dá tanto gosto, me ensina tanto ( jamais esqueçam que Clint é um cineasta moral ), e me dá prazer como este admirável Coração de Caçador.