Tem rolado uma certa polêmica com o critico gringo ( infelizmente não lembro seu nome... Nick Kent ? ), que escreveu que a música atual não apresenta mais nada de novo por culpa da internet. É que o fácil acesso a bandas do passado fez com que toda uma geração passasse a cultuar tudo o que fosse passado. Mais que isso, é como se para eles tudo já tivesse sido criado, o que restasse fosse a eterna repetição. Wellll.... eu já havia falado disso séculos atrás. E isso não é mérito algum, é fato óbvio, inclusive no cinema. Mas o que me deixou surpreso foi a resposta de outro crítico "importante". A resposta é de que essa opinião ( do crítico que critica a internet ), é tipica de alguém que cresceu nos anos 78/84, quando a critica inglesa descobria uma nova tendência por semana e transformava em velharias bandas com dois anos de estrada.
Isso é resposta? O cara então concorda com o outro. Ou ele quer dizer que música não deve ser nova? Que ansiar por novidades foi apenas um surto de uma época específica?
Em 1983 eu corria para acompanhar as novidades. Em época sem internet, era preciso comprar umas quatro revistas gringas por semana, ler os jornais, ouvir rádios e procurar amigos informados. Mas só pra citar os menos lembrados, só naquele verão a gente ouviu falar de Abc, Squeeze, Ultravox, Aztec Camera, Prefab Sprout, Dead Can Dance, Cabaret Voltaire, Orange Juice, Xtc, Madness, Altered Images, Bow Ow Ow, Cocteau Twins, Psychedelic Furs, General Public, Bananarama, Heaven 17, Adam and The Ants, John Foxx, Colourfield, Clannad,Big Country, Fun Boy Tree...e do Style Council, de Paul Weller.
Assistindo ontem ao Duran Duran no SWU ( a mais típica banda daquela época de bandas atípicas ), recordei como é blasé um show de então. Nada de suor, nada de descontrole, tudo absolutamente frio, ensaiado, profissional. São as lições de Bowie muito mal assimiladas. Desde então, seja Oasis, Blur ou Pulp, quase tudo o que vem da ilha tem essa coisa distante, essa coisa tipo "olhem como não estou nem aí pra voces". Se existem excessões, bandas emocionais, elas, que até 1982 seriam a regra, se tornaram desde aquele verão oitentista, raridades. Pois em 1983 Paul Weller sai do seu The Jam ( emocional ), e monta o Style Council. Naquele ambiente, em que tudo tinha de ser novo, em que caras de 27 anos eram chamados de veteranos, bandas se desfaziam a toda semana, e artistas solo mudavam de estilo como quem troca de blazer rosa. Paul Weller lança o disco: Café Bleu, e com esse nome ele cria o pop-fresco.
1958/1963. Em 1983 como em 2011, todos acham que esse período, fim dos anos 50, anos 60 antes dos hippies, é o mais chic da história. Filmes daquela época realmente impressionam, as roupas, carros, móveis e principalmente os modos de viver parecem ser os melhores, os mais elegantes. Café Bleu tem a alma daquela época. Uma mistura de O Sol Por Testemunha de René Clement com Charada de Stanley Donen. A capa, azul, traz Weller de sobretudo. Ele cria um apelido: The Capuccino Kid. Style Council trará a praga dos discos para "gente elegante". Mas este foi e ainda é um belo disco.
Começa com jazz. Jazz de verdade. Um belo e alegre tema urbano. Esse é o tom, o disco é alegre, bem tocado e muito urbano. Em seguida vem uma bossa-nova, Weller e guitarra apenas, e é preciso dizer, o cara canta muito bem. Belo tema de amor. Blue Café é o nome da terceira faixa, mais um jazz instrumental com belos solos de piano e de sax. Na sequencia vem The Paris Match. Uma obra-prima de jazz-blues. Penso que toda a carreira de N cantoras está sintetisada aqui. Melancólica sem ser deprê. Tem gosto de madrugada de ressaca pensando no amor possível. É linda. Colada nela eis My Ever Changing Moods, outra jóia de Weller, piano e voz em absoluta comunhão. É daquelas músicas que não cansamos de ouvir e reouvir. Perfeita imagem de amores, de saudades, de sensações que doem e que dão prazer. Em seguida um jazz-hot que ninguém é de ferro.
As outras 6 faixas ( lado b ) são outra praia. Weller deixa o alto nivel cair, mas ainda é bastante digno o que se tem. A Gospel é o tipo de som mais antigo que existe, rap branco dos anos oitenta. Na sequencia uma dance music interessante. Paul Weller joga os fãs do Jam no lixo. E eles eram muitos!
You're The Best Thing todo mundo conhece. É a música que faz nascer o "som de bom gosto" dos anos 80. De Simply Red a Sade Adu, indo até Amy Winehouse e Cee Lo, todo mundo bebeu aqui. Mas não se preocupe, depois tem Here's One que é muito melhor, e na sequencia vem Headstart for Happiness, uma das canções mais alegres já gravadas, euforia amorosa em linhas de baixo e metais soul music. Council Meet termina o disco em jazz.
Quando ouvi este lp pela primeira vez me senti chic, esperto, sofisticado, um tipo de "capuccino kid". Casou com o amor que eu vivia na época, com os filmes que eu queria ver e não tinha onde, casou com a ansiedade por diversidade daqueles tempos esquisitos. Escutado hoje, após tantas obras-primas que eu não conhecia então, ele é ainda bonito, leve, pop, confuso e bastante relax. Pra quem quiser conhecer a "frescura" da época, eis o disco.
Isso é resposta? O cara então concorda com o outro. Ou ele quer dizer que música não deve ser nova? Que ansiar por novidades foi apenas um surto de uma época específica?
Em 1983 eu corria para acompanhar as novidades. Em época sem internet, era preciso comprar umas quatro revistas gringas por semana, ler os jornais, ouvir rádios e procurar amigos informados. Mas só pra citar os menos lembrados, só naquele verão a gente ouviu falar de Abc, Squeeze, Ultravox, Aztec Camera, Prefab Sprout, Dead Can Dance, Cabaret Voltaire, Orange Juice, Xtc, Madness, Altered Images, Bow Ow Ow, Cocteau Twins, Psychedelic Furs, General Public, Bananarama, Heaven 17, Adam and The Ants, John Foxx, Colourfield, Clannad,Big Country, Fun Boy Tree...e do Style Council, de Paul Weller.
Assistindo ontem ao Duran Duran no SWU ( a mais típica banda daquela época de bandas atípicas ), recordei como é blasé um show de então. Nada de suor, nada de descontrole, tudo absolutamente frio, ensaiado, profissional. São as lições de Bowie muito mal assimiladas. Desde então, seja Oasis, Blur ou Pulp, quase tudo o que vem da ilha tem essa coisa distante, essa coisa tipo "olhem como não estou nem aí pra voces". Se existem excessões, bandas emocionais, elas, que até 1982 seriam a regra, se tornaram desde aquele verão oitentista, raridades. Pois em 1983 Paul Weller sai do seu The Jam ( emocional ), e monta o Style Council. Naquele ambiente, em que tudo tinha de ser novo, em que caras de 27 anos eram chamados de veteranos, bandas se desfaziam a toda semana, e artistas solo mudavam de estilo como quem troca de blazer rosa. Paul Weller lança o disco: Café Bleu, e com esse nome ele cria o pop-fresco.
1958/1963. Em 1983 como em 2011, todos acham que esse período, fim dos anos 50, anos 60 antes dos hippies, é o mais chic da história. Filmes daquela época realmente impressionam, as roupas, carros, móveis e principalmente os modos de viver parecem ser os melhores, os mais elegantes. Café Bleu tem a alma daquela época. Uma mistura de O Sol Por Testemunha de René Clement com Charada de Stanley Donen. A capa, azul, traz Weller de sobretudo. Ele cria um apelido: The Capuccino Kid. Style Council trará a praga dos discos para "gente elegante". Mas este foi e ainda é um belo disco.
Começa com jazz. Jazz de verdade. Um belo e alegre tema urbano. Esse é o tom, o disco é alegre, bem tocado e muito urbano. Em seguida vem uma bossa-nova, Weller e guitarra apenas, e é preciso dizer, o cara canta muito bem. Belo tema de amor. Blue Café é o nome da terceira faixa, mais um jazz instrumental com belos solos de piano e de sax. Na sequencia vem The Paris Match. Uma obra-prima de jazz-blues. Penso que toda a carreira de N cantoras está sintetisada aqui. Melancólica sem ser deprê. Tem gosto de madrugada de ressaca pensando no amor possível. É linda. Colada nela eis My Ever Changing Moods, outra jóia de Weller, piano e voz em absoluta comunhão. É daquelas músicas que não cansamos de ouvir e reouvir. Perfeita imagem de amores, de saudades, de sensações que doem e que dão prazer. Em seguida um jazz-hot que ninguém é de ferro.
As outras 6 faixas ( lado b ) são outra praia. Weller deixa o alto nivel cair, mas ainda é bastante digno o que se tem. A Gospel é o tipo de som mais antigo que existe, rap branco dos anos oitenta. Na sequencia uma dance music interessante. Paul Weller joga os fãs do Jam no lixo. E eles eram muitos!
You're The Best Thing todo mundo conhece. É a música que faz nascer o "som de bom gosto" dos anos 80. De Simply Red a Sade Adu, indo até Amy Winehouse e Cee Lo, todo mundo bebeu aqui. Mas não se preocupe, depois tem Here's One que é muito melhor, e na sequencia vem Headstart for Happiness, uma das canções mais alegres já gravadas, euforia amorosa em linhas de baixo e metais soul music. Council Meet termina o disco em jazz.
Quando ouvi este lp pela primeira vez me senti chic, esperto, sofisticado, um tipo de "capuccino kid". Casou com o amor que eu vivia na época, com os filmes que eu queria ver e não tinha onde, casou com a ansiedade por diversidade daqueles tempos esquisitos. Escutado hoje, após tantas obras-primas que eu não conhecia então, ele é ainda bonito, leve, pop, confuso e bastante relax. Pra quem quiser conhecer a "frescura" da época, eis o disco.