A QUICK ONE- THE WHO, CONVERSANDO COM UM AMIGO, PERGUNTO A ELE.....

   Estava conversando com esse amigo. Falávamos sobre bandas recém descobertas. Ele me contava de uma banda que fazia um tipo de "música de puteiro francês", e eu lhe dizia que andava ouvindo country de raiz. Mas então veio uma questão: porque ao escutar The Who ( que tocava agora no carro ), eu sentia sempre, e repito, sempre, uma emoção "esquisita". Uma quase vontade de chorar misturada com um desejo de viajar. Why?
  Esse meu amigo disse que é porque eles são a banda mais Sincera. Há algo de puro neles, de honesto. Concordo, e é estranho. Porque lembro que eles jamais foram uma de minhas 20 bandas favoritas. E mesmo em meus tempos de rocknroll, quando eu e meus brothers só pensávamos em rock, nunca The Who esteve entre esses 20. Mas sempre, desde aqueles tempos, quando eu me lembrava deles e os colocava pra rodar, era sempre essa emoção, esse aperto no peito, essa "elevação". ( E não posso deixar de falar da emoção de assistir o festival de Monterey pela primeira vez, aos 13 anos, e pirar com a detonação que foi My Generation ).
  Who's Next é o disco mais emocionante. Mas acabei de ouvir Quick One de novo e quero falar é dele.
  Dá pra dizer que é o primeiro LP de verdade deles. My Generation saiu antes, mas é um Lp mais para coletânea de singles. Este não, as músicas foram pensadas em sequência, e até os ecos de Tommy se encontram aqui.
  Abre com Run Run Run. Urgência no ar. Uma canção adrenalina. O que logo se percebe: são apenas 3 instrumentos, mas a banda soa como se fossem dez. Os sons ocupam espaço, vibram, eles fazem barulho. Há um zumbido de fundo, uma zoeira, é a banda mais barulhenta da época. Mais que isso, são eles que criam o conceito de noise. A bateria animalesca de Keith Moon ocupa todas as brechas, os sons dos pratos enchem cada milimetro de vazio.
  Boris the Spider vem então. Muda o registro. O baixo como centro do som. John Entwistle foi o melhor baixo branco do mundo. Os efeitos de estúdio dominam. Estúdio da Track Records, estúdio ridiculo de pequeno, e a magia de usar um equipamento tão básico para produzir tanto som.
  I Need You. É uma balada histérica. A bateria passa de todos os limites. É muito barulhenta. Keith Moon não é meu batera favorito ( Bonham ), mas ele foi o melhor. O que ele faz com os pratos é absurdo.
  Whiskey Man. Tem um arranjo de trompa que é a perfeição. Segredo de Pete Townshend: o som tem sua guitarra como fundo. O som é dominado por baixo e bateria. Esse é o estilo Who.
  Heatwave. Cover das Vandellas. Roger Daltrey é um principe. Canta forte, canta como os cantores brancos de rocknroll deveriam sempre cantar ( Jagger é preto ). Aqui está tudo aquilo que The Jam fez depois. O som a beira do colapso, com elegancia.
  Cobwebs and Strange. Uma escalafobética bizarrice. Kaos. Metais e bateria. A velocidade com que Moon toca é aterradora. Ele inventa a destruição da bateria.
  Dont Look Away. O som mais Mod do disco. Mods eram os jovens almofadinhas de Londres. Seus ídolos eram os negros americanos e Who/ Kinks. Aqui se nota a diferença maior entre Ray Davies ( Kinks ) e Pete. Os Kinks são cínicos, frios, satíricos. O Who é sempre do "bem". São ingênuos. Davies já nasceu dividido entre o bem e o mal.
  See My Way. Uma aula de baixo. Entwistle faz linhas que surpreendem. Ouvi-lo é sempre um prazer.
  So Sad About Us. Uma balada dominada por uma bateria ensandecida.
  E para finalizar: A Quick One, uma mini-opera rock em vários movimentos. Uma espécie de Beach Boys regado a gim barato. Canções com vocais sublimes ( e ácidos ) que mudam de andamento e de tom sem parar. É uma obra-prima.
  Termina o disco. Emocionante. Eles continuam a Não Estar entre meus top 20. E continuam a emocionar sempre. Why????