BEATLES E ROLLING STONES, A GENÉTICA DO POP ( BASEADO EM TESE DE KEN EMERSON, ENCICLOPÉDIA DO ROCK, ROLLING STONE )

   Os Beatles nasceram pobres. Tiveram uma educação truncada e começaram a ralar desde cedo. Seu objetivo era a sobrevivência. Trabalhar e ser aceito.
   Os Stones que contam ( Jagger, Keith e Brian ), cresceram no seio da ascendente classe média inglesa dos anos 50. Estudaram em escolas de arte ( Mick se formou em economia ). Seu objetivo era se exibir. Ser famoso e incomodar.
   Essas são as duas atitudes opostas que marcaram todo o pop feito desde então.
   A atitude Beatle, em que a banda ama seus fãs, e em que a ingenuidade idealista permeia tudo o que é feito. Os Beatles, mesmo quando de vanguarda, sempre procuram se comunicar com seu fã. E fundam a Apple em pensamento de extrema naive. Uma gravadora de amigos para os amigos.
   Os Stones sempre foram indiferentes a seus fãs. Eles desejam ser amados, nunca nos amam. Nada neles é ingênuo, tudo é calculado. A Rolling Stone Records existe apenas para administrar a carreira do grupo. A atitude deles é sempre a de "vejam como sou diferente".
   Ingenuamente Paul acreditou nos Beatles, ingenuamente John acreditou na paz, ingenuamente George acreditou em gurus e ingenuamente Ringo acreditou nos anos 60.
   Jagger e Richards jamais acreditaram em nada que não fosse neles mesmos. Jagger acreditou também em sexo e dinheiro. Richards em drogas e no blues. E todos os Stones nunca tiveram a ingenuidade de crer em seus fãs. Para eles os anos 60 foram cinicos.
   Os Beatles sempre são sérios. E tudo o que cantam luta para ser sincero. São reis do lá lá lá cantado em coro com seus fãs. Devolvem o afeto que recebem.
   Os Stones nunca parecem sinceros. E jamais são sérios. Eles podem ser assustadores, vaidosos, sexys ou raivosos, mas nunca são confessionais. Não fazem nada para ser cantado em coro e sugam o afeto que recebem. Devolvem ele em forma de risos e deboche.
   Nos Beatles há toda a herança do meio em que cresceram. Eles são trabalhadores. E têm um modo cristianizado de agir. Há dor e culpa sinceras neles.
   Os Stones são pagãos. Seu modo de ser é completamente classe-média. Estão na coisa para se dar bem. Para fazer algo contra o tédio, contra o anonimato. São blasé.
   Let it be ou Hey Jude, All You Need Is Love ou I Am The Walrus são impossíveis no mundo dos Stones. Elas são todas confissões. São espirito.
   Sympathy For The Devil ou Under My Thumb, Let It Bleed ou Brown Sugar são impensáveis para os Beatles. São todas "do mal". São carne.
   Todo o pop desde então conformou-se a essas atitudes. Ou voce ama seu público ( U2 ), ou é frio com eles ( Led Zeppelin ).
   Amável ou excitante, naive ou cínico.