Juro que é verdade.
Eu estava ontem, 8 de outubro, na livraria Cultura da Paulista. Eram 14 horas e eu fui só pra comprar o livro dessa poeta polonesa, ganhadora do Nobel de 1996. Na prateleira dos poetas, vi três livros dela. Resolvi ir ver primeiro os dvds e depois pegar o livro. Mas um garoto se meteu na minha frente e pegou um dos livros. Puxa! Melhor eu pegar logo o meu. Fui olhar os dvds já com o livro de poesia na mão. Antes de voltar à rua, dei mais uma olhada, e acabei comprando um William Carlos Willians. E eis que um jovem louro pega o último livro de Wislawa e o leva à caixa. Acabaram.
Wislawa ainda é viva e continua a escrever. Está com 90 anos e é feliz. Foge do hype e publicou muito pouco. Viveu a guerra, a ditadura comunista, a liberação. Na introdução dizem que a Polonia é hoje o país da poesia, dos melhores poetas. Leio esse livrinho ontem mesmo. Afinal, ele saiu só agora, 15 anos após o prêmio. É estarrecedor como nosso mercado é pobre de traduções.
Sua poesia é simples em vocabulário, em sintaxe. Nada parece muito hermético, modernista, elaborado. Mas isso é enganoso. Sua poesia é filtrada, lapidada, ela trabalha até achar a palavra mais exata, mais clara, definida e definitiva.
E tudo o que ela escreve é cotidiano. Uma pedra dá mote a um poema. Mas essa pedra se faz a eternidade, e o diálogo é o diálogo entre o ser e o não-ser. Quando ela fala de um gato é apenas um gato ou é o absolutamente "gato" ?
Todos os poemas me lembram um córrego limpo ou uma nuvem. E ela escreve de nuvens e de guerra também. Ela nunca é intimista, é íntima. Não fala só, mas fala com voz única. É a poesia possível neste tempo que abomina poesia.
Mas acima de tudo é livro pra devorar, e pra reler e pra deixar de herança pros netos.
"Meus netos, eu sei que não tivemos o Goethe que voce continua a estudar. E que nunca conseguimos produzir um Shakespeare ou mesmo um Byron que nos desse heroísmo. Mas neto meu, tivemos Wislawa Szymborska! E ela nos consolou."
Coloquei 3 em mil porque um de seus poemas fala que gostar de poesia é coisa de 2 em mil.
Eu estava ontem, 8 de outubro, na livraria Cultura da Paulista. Eram 14 horas e eu fui só pra comprar o livro dessa poeta polonesa, ganhadora do Nobel de 1996. Na prateleira dos poetas, vi três livros dela. Resolvi ir ver primeiro os dvds e depois pegar o livro. Mas um garoto se meteu na minha frente e pegou um dos livros. Puxa! Melhor eu pegar logo o meu. Fui olhar os dvds já com o livro de poesia na mão. Antes de voltar à rua, dei mais uma olhada, e acabei comprando um William Carlos Willians. E eis que um jovem louro pega o último livro de Wislawa e o leva à caixa. Acabaram.
Wislawa ainda é viva e continua a escrever. Está com 90 anos e é feliz. Foge do hype e publicou muito pouco. Viveu a guerra, a ditadura comunista, a liberação. Na introdução dizem que a Polonia é hoje o país da poesia, dos melhores poetas. Leio esse livrinho ontem mesmo. Afinal, ele saiu só agora, 15 anos após o prêmio. É estarrecedor como nosso mercado é pobre de traduções.
Sua poesia é simples em vocabulário, em sintaxe. Nada parece muito hermético, modernista, elaborado. Mas isso é enganoso. Sua poesia é filtrada, lapidada, ela trabalha até achar a palavra mais exata, mais clara, definida e definitiva.
E tudo o que ela escreve é cotidiano. Uma pedra dá mote a um poema. Mas essa pedra se faz a eternidade, e o diálogo é o diálogo entre o ser e o não-ser. Quando ela fala de um gato é apenas um gato ou é o absolutamente "gato" ?
Todos os poemas me lembram um córrego limpo ou uma nuvem. E ela escreve de nuvens e de guerra também. Ela nunca é intimista, é íntima. Não fala só, mas fala com voz única. É a poesia possível neste tempo que abomina poesia.
Mas acima de tudo é livro pra devorar, e pra reler e pra deixar de herança pros netos.
"Meus netos, eu sei que não tivemos o Goethe que voce continua a estudar. E que nunca conseguimos produzir um Shakespeare ou mesmo um Byron que nos desse heroísmo. Mas neto meu, tivemos Wislawa Szymborska! E ela nos consolou."
Coloquei 3 em mil porque um de seus poemas fala que gostar de poesia é coisa de 2 em mil.