Existem filmes que são obras de gênio, mas são imperfeitos. Têm cenas inesquecíveis, fortes, originais, mas no todo passam uma impressão de imperfeição. E isso não lhes tira a beleza ou sua importância. Fellini, Bresson, Bunuel ou Hawks fizeram obras-primas imperfeitas. Mas suas imperfeições talvez aumentem ainda mais seu status, sua originalidade.
John Huston está longe de ser um cineasta perfeccionista. Sua carreira tem vários filmes imperfeitos, alguns ruins e muitos bons filmes. Entre os imperfeitos existem alguns maravilhosos, filmes como The African Queen ou Beat The Devil ( talvez o mais "errado" dos grandes filmes ). Mas Huston tem dois filmes que além de geniais, ou seja, criativos e arrojados, têm a marca da perfeição absoluta: O Tesouro de Sierra Madre e este estupendo Segredo das Jóias.
Porque perfeito? O que é um filme perfeito?
Simples responder. O filme perfeito é aquele que não tem uma só cena errada. Mais, nada parece em excesso. Cada segundo de fita é exata, correta, e todo o tempo em sua exatidão nada transparece frieza. É uma perfeição quente, emocionada, cenas que pegam sua atenção e não largam mais seus olhos e ouvidos.
Toda a parte técnica é perfeita. Temos a fotografia em P/B de Harold Rosson, as ruas com seu asfalto molhado, os brilhos sobre os carros negros, os ambientes sórdidos. Mas não é só isso que faz a perfeição deste filme. São os atores também. Todos com exatas expressões, e ao menos dois em atuações absolutas ( Sam Jaffe chega a ser mágico ). E há o roteiro, de Huston e WR Burnett. O primeiro filme da história do cinema a tratar de um assalto em seus detalhes, visto por dentro.
Temos a tendência a achar que tudo no cinema existiu desde sempre. Esquecemos que alguém criou aquilo que hoje parece natural. Houve o primeiro western, o primeiro filme de suspense, o primeiro gore e o primeiro filme de acidente. Até este filme não se mostrava o assalto como foco de um filme, se dava ênfase a fuga, a captura ou não do ladrão. Pois aqui nasce toda a linhagem de filmes que tratam de planos de roubo, de sua execução e das consequências desse assalto. De Missão Impossível aos filmes de Soderbergh, todos nasceram aqui. E devo dizer, este é ainda o melhor.
Vemos o nascimento da ideia do roubo, a formação da equipe, o ato e o destino dos assaltantes. Tudo sem qualquer glamurização, sem nada de engraçadinho, sem facilidades. Há um ambiente de constante medo, de desconfiança, de vazio. Lugares sombrios, sórdidos, gente feia. Huston acerta em cada escolha, jamais nos deixa relaxar, tem tudo sob controle, se empenha e consegue fazer o que quer, o que planeja, faz gol atrás de gol. Da primeira até a última excelente cena, não há nada que desabone o filme. Eis a perfeição.
Quanto a virilidade, coisa cada vez mais rara no cinema flácido que hoje se faz, é um filme muito sério sem qualquer cena de sofrimento ou de poesia forçada. As coisas acontecem, o destino castiga, e ninguém pode perder tempo em se lamentar. Eles jogam, falham, e seguem adiante. Não querem ser simpáticos, não almejam ser belos ou sofridos, são o que são, inteiros.
São o que são... não há descrição melhor ao cinema de Huston. Seus filmes tratam de jogadores, de quem apostou, correu riscos e perdeu. Huston ama os derrotados, mas são derrotados que não se lamentam, que não culpam ninguém, derrotados que por não se lamentar acabam vencendo de certa forma, não desistem, avançam. Nada de heróico aqui, pensam apenas em si-mesmos, nada de bonitinho, a beleza mora no terrível da situação, nada de bondade, se ela existe deve ser encontrada em outro lugar.
Nenhum diretor foi mais macho. Huston criou Eastwood e Peckimpah, Leone e Tarantino. E de certo modo, ele abriu meus olhos ao que é ser um homem. Não é pouca coisa. Foi o primeiro diretor que chamei de ídolo. E rever seus filmes ainda é um prazer visceral. Mais que um grande diretor. Foi um homem. Um grande homem.
John Huston está longe de ser um cineasta perfeccionista. Sua carreira tem vários filmes imperfeitos, alguns ruins e muitos bons filmes. Entre os imperfeitos existem alguns maravilhosos, filmes como The African Queen ou Beat The Devil ( talvez o mais "errado" dos grandes filmes ). Mas Huston tem dois filmes que além de geniais, ou seja, criativos e arrojados, têm a marca da perfeição absoluta: O Tesouro de Sierra Madre e este estupendo Segredo das Jóias.
Porque perfeito? O que é um filme perfeito?
Simples responder. O filme perfeito é aquele que não tem uma só cena errada. Mais, nada parece em excesso. Cada segundo de fita é exata, correta, e todo o tempo em sua exatidão nada transparece frieza. É uma perfeição quente, emocionada, cenas que pegam sua atenção e não largam mais seus olhos e ouvidos.
Toda a parte técnica é perfeita. Temos a fotografia em P/B de Harold Rosson, as ruas com seu asfalto molhado, os brilhos sobre os carros negros, os ambientes sórdidos. Mas não é só isso que faz a perfeição deste filme. São os atores também. Todos com exatas expressões, e ao menos dois em atuações absolutas ( Sam Jaffe chega a ser mágico ). E há o roteiro, de Huston e WR Burnett. O primeiro filme da história do cinema a tratar de um assalto em seus detalhes, visto por dentro.
Temos a tendência a achar que tudo no cinema existiu desde sempre. Esquecemos que alguém criou aquilo que hoje parece natural. Houve o primeiro western, o primeiro filme de suspense, o primeiro gore e o primeiro filme de acidente. Até este filme não se mostrava o assalto como foco de um filme, se dava ênfase a fuga, a captura ou não do ladrão. Pois aqui nasce toda a linhagem de filmes que tratam de planos de roubo, de sua execução e das consequências desse assalto. De Missão Impossível aos filmes de Soderbergh, todos nasceram aqui. E devo dizer, este é ainda o melhor.
Vemos o nascimento da ideia do roubo, a formação da equipe, o ato e o destino dos assaltantes. Tudo sem qualquer glamurização, sem nada de engraçadinho, sem facilidades. Há um ambiente de constante medo, de desconfiança, de vazio. Lugares sombrios, sórdidos, gente feia. Huston acerta em cada escolha, jamais nos deixa relaxar, tem tudo sob controle, se empenha e consegue fazer o que quer, o que planeja, faz gol atrás de gol. Da primeira até a última excelente cena, não há nada que desabone o filme. Eis a perfeição.
Quanto a virilidade, coisa cada vez mais rara no cinema flácido que hoje se faz, é um filme muito sério sem qualquer cena de sofrimento ou de poesia forçada. As coisas acontecem, o destino castiga, e ninguém pode perder tempo em se lamentar. Eles jogam, falham, e seguem adiante. Não querem ser simpáticos, não almejam ser belos ou sofridos, são o que são, inteiros.
São o que são... não há descrição melhor ao cinema de Huston. Seus filmes tratam de jogadores, de quem apostou, correu riscos e perdeu. Huston ama os derrotados, mas são derrotados que não se lamentam, que não culpam ninguém, derrotados que por não se lamentar acabam vencendo de certa forma, não desistem, avançam. Nada de heróico aqui, pensam apenas em si-mesmos, nada de bonitinho, a beleza mora no terrível da situação, nada de bondade, se ela existe deve ser encontrada em outro lugar.
Nenhum diretor foi mais macho. Huston criou Eastwood e Peckimpah, Leone e Tarantino. E de certo modo, ele abriu meus olhos ao que é ser um homem. Não é pouca coisa. Foi o primeiro diretor que chamei de ídolo. E rever seus filmes ainda é um prazer visceral. Mais que um grande diretor. Foi um homem. Um grande homem.