A minha geração é geração que adora lembrar sua adolescência. E como eles agora são os diretores que podem escolher temas, abundam filmes que se passam no periodo entre 1976/1979. Recordo de um dos primeiros, Dazed and Confused de Richard Linklater e depois temos Velvet Goldmine, Boogie Nights, Quase Famosos, Tempestade de Gelo, Crazy, The Runaways, o excelente Reis de Dogtown e mais um monte que me esqueço agora. Nas entrevistas Abrams tem dito que sente falta daquele estilo de vida, do modo como se filmava, da estética dos filmes daquele tempo. A saudade deve ser imensa, porque ao contrário dos filmes acima citados, não existe um motivo para se situar este filme em 1979. Apenas a nostalgia.
Uma das maiores experiências que já tive numa sala de cinema foi a de ter visto Contatos Imediatos em seu tempo. Toda a platéia teen entrava em êxtase. A saída da sala era como um tipo de saída de tenda de xamã. Sabíamos que nunca mais o cinema seria o mesmo. Nós tomávamos o poder. Nada mais de cinema politico ou de vida adulta. As telas seriam dos teens e nós mostrávamos que tínhamos filosofia, visão, arrojo. Para o bem ou para o mal. JJ Abrams também estava numa sala escura naquele ano. Este filme é todo o tempo sua homenagem a Contatos Imediatos, mas também a O Vencedor e a todos os filmes baratos de horror. É um filme tosco de 1979. O fato de hoje esse tipo de filme ser levado a sério mostra o que somos.
Nas entrevistas Spielberg diz ter alertado Abrams que sem Truffaut e Jean Vigo, o cinema americano moderno não existiria. Quem viu O Atalante e A Idade da Inocencia sabe o que isso quer dizer. Em seus melhores momentos, este filme tem o espirito leve de Truffaut. Nos seus momentos ruins, ele é apenas mais um filme de catástrofe. Felizmente ele é um bom filme. Um filme realmente bom.
Apesar de suas concessões. Na estética de 1979, um filme exibia ação após mostrar os seus personagens. Aqui se mostra o personagem em meio a ação. O que faz com que certas falas beirem o ridiculo. Mas Abrams persiste, e sua sinceridade, o fato de ele amar o que faz aqui, acaba por salvar o todo. Se tudo parece tolo, bem, a mensagem é tão bacana que acabamos por engolir a coisa inteira. Não deixa de ser engraçado, como disse alguém, que filmes que eram tratados como cinema pipoca ( Tubarão, Contatos, Blade Runner, Alien ) sejam hoje "cinema sério". Super 8 é lançado como se fosse cinema sério. Não é. Em tempo de cinema sério hiper-chato, felizmente este filme se assume popular. Mas ele tem algo a mais: estilo.
A ação é feita pelos personagens. Não vemos coisas explodindo, o que vemos são pessoas se movendo em meio a explosão. Tudo acontece ao redor de gente. Abrams pegou o melhor dos filmes de 1979: o ator está sempre em primeiro plano. Dessa forma, o que mais lembramos não é o monstro, ou as armas do exército, ou a cidade em chamas. Lembramos dos meninos em fuga, da população em pânico e da menina confusa. Os efeitos não são a estrela. O filme é sobre gente.
Porque 1979? Bem.... além da nostalgia, talvez naquele tempo sem celulares e e mail, onde a vida só podia ocorrer na rua, Abrams tenha tido o espaço poético para não ser histérico. O filme é de ação sem fim, mas a histeria não está presente. O mundo mostrado aqui nada tem a ver com o mundo de Transformers ou de Velozes e Furiosos. Não há o histerismo da máquina em disparada. O ritmo é da pelicula. Biológico. Acelerado, mas sempre humano.
Os ex-adolescentes ( alguém conseguiu ser ex? ) adoram 1979 porque foi tempo de começos mundiais. Todo adolescente se sente "em começo", mas o segredo de 1979 é que o mundo parecia "começar". Começo do punk e da música eletrônica, começo do rap. Inicio do skate e do surf como esporte profissional, começo da moda de esportes radicais. Inicio de tvs a cabo, do clip e dos video games. Foi o começo do blockbuster e do filme feito em casa. Dos zines mimeografados, dos albuns de luxo de HQ. E foi também o começo do fim. O fim das ideologias, da inocência pré-aids e do rock como música anti-sistema. Grande tempo para se ter 15 anos.
No mais há no filme um leve pedido de desculpas da América ao mundo. É quando é dito ao alien: "Alguns de nós são bons". Tenho a certeza de que, quando a América deixar de carregar o peso de ser a policia do mundo, teremos uma nova nostalgia mundial: a saudade da hegemonia americana. O filme é bom. E 1979 foi um grande ano.
Uma das maiores experiências que já tive numa sala de cinema foi a de ter visto Contatos Imediatos em seu tempo. Toda a platéia teen entrava em êxtase. A saída da sala era como um tipo de saída de tenda de xamã. Sabíamos que nunca mais o cinema seria o mesmo. Nós tomávamos o poder. Nada mais de cinema politico ou de vida adulta. As telas seriam dos teens e nós mostrávamos que tínhamos filosofia, visão, arrojo. Para o bem ou para o mal. JJ Abrams também estava numa sala escura naquele ano. Este filme é todo o tempo sua homenagem a Contatos Imediatos, mas também a O Vencedor e a todos os filmes baratos de horror. É um filme tosco de 1979. O fato de hoje esse tipo de filme ser levado a sério mostra o que somos.
Nas entrevistas Spielberg diz ter alertado Abrams que sem Truffaut e Jean Vigo, o cinema americano moderno não existiria. Quem viu O Atalante e A Idade da Inocencia sabe o que isso quer dizer. Em seus melhores momentos, este filme tem o espirito leve de Truffaut. Nos seus momentos ruins, ele é apenas mais um filme de catástrofe. Felizmente ele é um bom filme. Um filme realmente bom.
Apesar de suas concessões. Na estética de 1979, um filme exibia ação após mostrar os seus personagens. Aqui se mostra o personagem em meio a ação. O que faz com que certas falas beirem o ridiculo. Mas Abrams persiste, e sua sinceridade, o fato de ele amar o que faz aqui, acaba por salvar o todo. Se tudo parece tolo, bem, a mensagem é tão bacana que acabamos por engolir a coisa inteira. Não deixa de ser engraçado, como disse alguém, que filmes que eram tratados como cinema pipoca ( Tubarão, Contatos, Blade Runner, Alien ) sejam hoje "cinema sério". Super 8 é lançado como se fosse cinema sério. Não é. Em tempo de cinema sério hiper-chato, felizmente este filme se assume popular. Mas ele tem algo a mais: estilo.
A ação é feita pelos personagens. Não vemos coisas explodindo, o que vemos são pessoas se movendo em meio a explosão. Tudo acontece ao redor de gente. Abrams pegou o melhor dos filmes de 1979: o ator está sempre em primeiro plano. Dessa forma, o que mais lembramos não é o monstro, ou as armas do exército, ou a cidade em chamas. Lembramos dos meninos em fuga, da população em pânico e da menina confusa. Os efeitos não são a estrela. O filme é sobre gente.
Porque 1979? Bem.... além da nostalgia, talvez naquele tempo sem celulares e e mail, onde a vida só podia ocorrer na rua, Abrams tenha tido o espaço poético para não ser histérico. O filme é de ação sem fim, mas a histeria não está presente. O mundo mostrado aqui nada tem a ver com o mundo de Transformers ou de Velozes e Furiosos. Não há o histerismo da máquina em disparada. O ritmo é da pelicula. Biológico. Acelerado, mas sempre humano.
Os ex-adolescentes ( alguém conseguiu ser ex? ) adoram 1979 porque foi tempo de começos mundiais. Todo adolescente se sente "em começo", mas o segredo de 1979 é que o mundo parecia "começar". Começo do punk e da música eletrônica, começo do rap. Inicio do skate e do surf como esporte profissional, começo da moda de esportes radicais. Inicio de tvs a cabo, do clip e dos video games. Foi o começo do blockbuster e do filme feito em casa. Dos zines mimeografados, dos albuns de luxo de HQ. E foi também o começo do fim. O fim das ideologias, da inocência pré-aids e do rock como música anti-sistema. Grande tempo para se ter 15 anos.
No mais há no filme um leve pedido de desculpas da América ao mundo. É quando é dito ao alien: "Alguns de nós são bons". Tenho a certeza de que, quando a América deixar de carregar o peso de ser a policia do mundo, teremos uma nova nostalgia mundial: a saudade da hegemonia americana. O filme é bom. E 1979 foi um grande ano.