POR ONDE VOCÊ ANDOU, ROBERT? - HANS MAGNUS ENZENSBERGER

É um autor que frequenta sempre os postulantes a vencedor do Nobel. Poeta, ensaísta, crítico, romancista. Aqui, em tom de literatura juvenil mas na verdade com implicações adultas, ele conta a saga de Robert, um adolescente alemão de classe média, que sem saber como, acaba por viajar por sete locais e sete épocas diferentes. Ele se vê na Sibéria dos anos 50, na Austrália de 1946 e por aí vai.... Fantasia? Sim, da melhor safra, e penso em como eu adoraria ter lido este livro aos 16 anos ( Mas quando eu tinha 16 este livro não havia sido escrito! )
Aventura. Como é bom ler um livro de ação bem escrita. Coisas acontecem, crimes, fugas, guerras, quase amores... E Enzensberger consegue algo muito raro: nos sentimos nos lugares onde a ação se passa. Quase podemos sentir o cheiro da Estrasburgo do século XVII ou ver a ordem e o asseio da Amsterdam de 1617. Mas nada há de romantico aqui. Robert percebe a pobreza de cada cidade vista, a falta de bens que lhe são tão comuns hoje, a falta de comida. Enzensberger nunca glorifica o passado, ele sabe que cada um só pode viver em seu tempo. Quem vier amanhã também nos achará limitados.
Dificil saber se a intenção do autor foi "quântica". Há um flerte com a noção de que todo tempo é aqui/neste lugar/agora. Que os ontem acontecem indefinidamente para todo o sempre. Que o futuro e o passado moram em todo presente. Mas ele não aprofunda nada disso, apenas sugere, felizmente!
Precisamos de mais autores como Hans Magnus. Que escrevam com gosto e não com sofrimento. Que parecem sorrir de prazer ao criar e que não nos obriguem a sentir pena de seu dom. Aqui temos um muito bom livro, que diverte, absorve e toca nos tais "temas sérios". O que mais voce quer? Não temos mais um Henry James ou um Joseph Conrad. Um Enzensberger está de bom tamanho.