BILLY BUDD, O MAL ENCONTRA A INOCÊNCIA

Acaba de ser lançado o dvd do filme de Peter Ustinov, Billy Budd. A Veja também o comenta nesta semana. O que dizer? Se ando pegando no pé de certos filmes que nada têm a dizer e se fingem de filosofia, este, aparente aventura marítima, é arte absoluta, arte que diverte também, mas que faz pensar, pensar bem. O livro original é de Hermann Melville e Ustinov, ator que aqui se faz diretor, se mostra a altura do que a história lhe exige.
Em fins do século XVIII, a marinha inglesa, em guerra, recrutava a força qualquer marinheiro civil inglês que fosse pego. O ambiente no navio mercanto "RIGHTS OF MEN" é de camaradagem, mas o navio de guerra 'AVENGER" recruta a força Billy Budd e o que vemos é como esse marujo muito jovem se vira em seu novo trabalho.
Billy é orfão, ignorante, bronco, um rapaz sem nenhuma cultura. Mas ele tem algumas coisas que o ajudam: é bonito, acredita na vida e em sua inocência persevera em teimosa obstinação. Billy crê em seu mundo. Acredita que a verdade prevalece, que o bem traz o bem e que todos gostam de quem for um bom camarada. Esse Budd é feito pelo iniciante Terence Stamp, e Stamp está a altura de Billy Budd. Ele jamais se torna um anjinho piegas, nunca faz humor. O marujo do bem é um tolo, um iletrado, e Stamp nunca nos deixa esquecer disso. Mais, ele o faz sempre sorridente, e nesse sorriso vemos algo de "quase maligno" em Budd.
Voce já deve ter visto Terence Stamp em algum filme atual. Ele se tornou uma estrela nos anos 60, mas na loucura da época se perdeu por todos os anos 70, retornando a vida nos 80/90. Foi Priscilla, a Rainha do Deserto que o recolocou no mercado. Se na juventude seu rosto transparecia inocência, hoje é o rosto da maldade. É um dos vilões mais usados. Voltando ao filme....
No navio, Billy entra em atrito com o encarregado da disciplina, papel feito de forma magnífica pelo sempre marcante Robert Ryan. Se Billy crê no bem, Ryan é o mal. Ele tem êxtases em cada chicotada dada em cada marujo ( o chicote era norma na marinha inglesa de então. Foi norma no Brasil até o século XX ), e passa a sofrer intensamente com a bondade de Billy Budd. Os diálogos entre os dois são maravilhosos, Billy levando o bem adiante em lógica natural absoluta e Ryan usando o mal como escudo onde se protege de seu desencanto. O filme não freudianiza nada, não evangeliza nada, não faz poesia, ele conta a história, dá chance a 8 atores soberbos e se encerra em final afiado, cruel, incômodo.
Obrigatório. É um filme para todo adulto que goste de filmes.