AS ILHAS DA CORRENTE- ERNEST HEMINGUAY

Releio mais uma vez este que é um dos últimos livros de Heminguay. Foi um fiasco. Mas, não sei porque, é dos livros que mais gosto.
Sei que ele é vazio. Dividido em 3 partes, na primeira lemos sobre um pai que vive em ilha tropical, confortávelmente só. Tem um amigo bêbado, ocasionais casos com prostitutas nativas e escreve. Seu casamento foi um fracasso e ele se culpa por isso. Três filhos vêm o visitar. Há uma longa pesca e lautos jantares. E o tom dessa primeira parte é de desencanto, monotonia. Mas ao lado disso, há uma soberba descrição do mar, da praia, do sol. Há a descrição da comida, e este livro abre nosso apetite, há receitas nele que fiz em casa, bebidas. Ao lado da dor do tempo perdido, existe uma descrição do prazer, dos apetites, e do sol. O sol brilha forte todo o tempo, e tudo é mar...
Na segunda parte a ex-esposa vem o visitar. Um dos filhos morre em desastre de avião ( é época de guerra ) e a dor se instala de vez. Heminguay se desnuda na forma como o personagem enfrenta a dor. A esposa é exemplo de elegância e os tons sombrios se instalam. Se gosto do livro é por sua primeira parte.
Na terceira, ele parte em barco à caça de submarino nazista que foi visto por lá. Aqui Heminguay se perde. Como aventura é inconvincente, como narração, repetitiva. Se já li este livro 3 vezes, esta terceira parte foi lida apenas uma. E basta.
Há um belo filme de Franklyn Schaffner que segue este livro. George C. Scott nasceu para ser Heminguay. De certo modo ele é mais Heminguay que o escritor. No filme, a parte um é esticada, a parte três diminuída. É o que eu faria.
Ernest Heminguay tem quatro livros que gosto ( ainda ). O SOL TAMBÉM SE LEVANTA é o melhor. Seus livros de contos são todos bons. O volume onde recorda sua vida em Paris é ótimo. E este imperfeito AS ILHAS DA CORRENTE. Vazio, às vezes tolo, sem rumo.
Mas há algo na descrição da vida, do azul do mar e da força do sol que nos cativa. Heminguay teve o DUENDE.... a força vital que os espanhóis descrevem. Só que ele cometeu um erro: vulgarizou esse DUENDE. E o perdeu. Toda a parte final da vida de Heminguay é a dor dessa perda, a impotência criadora.
Mas ele o revê, longe, em certos parágrafos deste livro. VALE!!!!