ARNALDO JABOR

Muito bom o texto dele no Estadão de ontem. Ele chorou com o filme de Woody Allen, na hora em que Cole Porter canta ao piano. OK. Voce menino inteligentinho antenadinho, voce pode dizer: eis um filme comum que pegou o pessoal do passado, o tipo "homem inteligentão desligado"... eu sei que voce prefere os filmes de "arte" feitos calculadamente para impressionar gente como voce ( A REDE SOCIAL, CISNE NEGRO, MELANCOLIA ), aqueles produtos de filosofia fácil, que ditem aquilo que voce já sabe e sente, com o visual que voce conhece e um certo climinha tristinho e escurinho... Mas o que Jabor diz, e eu digo, é que não há nada que vá te fazer chorar quando voce tiver 70 anos. Talvez apenas o seu umbigo em horas de terapia. Por não saber nada sobre cinema voce cai fácil na colonização desses dois únicos tipos de filme que voce entende: o filme tristinho e o filme pop fofinho.
O que voce não pode saber, e jamais saberá, é que existe uma coisa chamada paixão e é sobre isso que Jabor fala. Paixão pelo povo de 1920 em Paris, pelos intelectuais ferinos e elegantes da New York dos anos 30. E pelo cinema sem moda e sem cálculo. Cinema que não é pro seu narizinho sensível e bonitinho.
Amava-se Tarkovski como quem ama o Corinthians. E era-se anti-Bunuel como quem é anti-Gaviões. Questão de paixão baby. Eu chorava ao PENSAR em ir aos bares onde Heminguay, Cocteau, Man Ray ou Capa estiveram ( e chorei ). Sabe o que eu ganhei com essa paixão? Cor, sangue, faro e muito espírito. E é o que eu procuro e não acho no cinema de agora: paixão viva. Tarantino sempre demonstra essa paixão viva. Tem mais uns cinco ou seis que também têm isso. Mas eles não conseguem fazer um movimento. Pior, para voces, ó seres inteligentinhos, eles são apenas pop. Afinal, não falam do "sentido da vida". Surpresa pra voce baby: seus falsos gurus falam o que voce quer ouvir. Nada de novo no front.
Como paixão o cinema morreu a vinte anos pelo menos. A reverência que cheguei a ver no fim dos anos 70 ( que era demonstrada pelo fato de que filmes eram aplaudidos e seus letreiros de encerramento acompanhados até o fim ), se encerrou. Recordo aplausos em "cena aberta" para Annie Hall e Z de Costa-Gavras. E discussões acaloradas sobre Rede de Intrigas e Lenny ( na sala de cinema, entre estranhos ). Parece que quem ia ao cinema era mais vivo.
Hoje o fime de arte é um tipo de cantiga de deprimidos que embalam bonecos mortos em seu colinho flácido. Nada têm a dizer e nada despertam de novo. Porque voce pode com seu pensamento inteligentinho estar pensando: Esse cara é saudosista! Mas o que voce não consegue perceber é que o que desejo ( pasmem! Eu ainda desejo algo que não me é oferecido para ser desejado!!!!! ), é exatamente o novo, a surpresa, o inesperado.
Belo texto Jabor!!!!!