AMY WINEHOUSE, EXPLICA-SE?

Terminei um livro de André Gide. Interessante. Ele diz em certo momento que tudo em nossa vida depende de querer acreditar. Voce acredita no que voce escolhe, nunca na verdade. Damos explicações estapafúrdias para aquilo que não tem explicação. Mas, como não suportamos um mundo irracional, criamos crenças para consolo de nossa consciencia. Dito isso....
Amy Winehouse morre e iremos crer que foi "a pressão da fama", que a matou. Que foi o vazio de ter muito jovem "chegado ao topo". Ou que foi "a solidão da fama".... Voce escolhe crer no que preferir engolir. Mas saiba, nada explica. Nada. E é isso que voce teme, ver que a vida não tem razão, ela é feita além de nosso entendimento.
Se a pressão da fama mata, então Os Beatles teriam se matado. Se a chegada ao topo muito rápido mata, então Marlon Brando ou John Travolta teriam se matado. E se a solidão da fama é fatal, bem, Mick Jagger deveria ser um melancólico suicida. Mas não. O que une Morrison a Keith Moon, Gram Parsons a John Bonham ou Hendrix a Kurt Cobain? Nada. Considerar a idade como um sinal é computar só os que morreram aos 27 e esquecer o resto. Amy, uma bela voz, morre porque as pessoas morrem. Morrem de acidentes, de cancer, de droga ou de tédio. Morrem aos 12, aos 30, aos 88. Morrem.
O que me enoja é tratar esse mortos como heróis simplesmente por terem morrido. Hendrix é maior que Jimi Page não por ter morrido. Mas Keith Richards é um herói num nível que Jim Morrison jamais poderia ser. Keith sobreviveu. Ousou ficar velho. E jamais pagou por sua loucura. Não se arrependeu, não se sacrificou. E NUNCA chorou seus erros num disco. Como Iggy, Ozzy, Lou.
Amy deveria ter conversado com os sobreviventes. Só isso.