A IMPORTÂNCIA DE SER PRUDENTE- OSCAR WILDE

Interessante observar que o Wilde do Brasil e dos países latinos não é o mesmo da Inglaterra e dos EUA. Por aqui Oscar Wilde é o gótico que escreveu Dorian Gray e o sofredor do Cárcere de Reading. Onde se fala inglês Oscar Wilde significa teatro e humor, acima de tudo humor.
Após Shakespeare é ele o autor mais representado. A dificuldade que apresenta em ser traduzido ( seu humor é baseado em trocadilhos e sotaques ) não é o que explica a raridade de Wilde em palcos tupis. A falta de atores Wildeanianos é o principal motivo. Temos excelentes atores para Tennessee Willians, para Lorca ou Pirandello; não os temos para Bernard Shaw, para Pinter e principalmente para Wilde. O sabor da palavra, o gosto pelo modo de pronunciar, a riqueza de dialogar sobre coisa nenhuma, esse rico teatro de Wilde não é aquilo que mais agrada ou mais dá possibilidades a nossos atores. Somos mais pés-no-chão, Nelsonrodrigueanos, afrancesados Molierineanos e muito noveleiros Diasgomesneiros.
Não temos Michael Redgrave.
A Importância de ser Prudente é sobre nada. Dois dandys e sua ida ao campo. Se fingem ser o que não são para poder casar com duas mocinhas. Fingem se chamar Prudente. O tema é apenas esse, e eu iria trair a memória de Oscar Wilde se começasse a falar do que significa tal enredo. Porque apesar de percebermos todo o tempo que a peça é mais do que é, que tudo aquilo é uma crítica àquilo que tanto glorifica, na verdade o que Wilde mais desejava era mostrar que a arte/vida era puro esteticismo, que a Londres de 1890 era centro de luxo em decadencia e que o sentido de tudo aquilo estava na frase que nada parece dizer e muito subentende. O epigrama Wildeano.
Milhões de páginas podem ser escritas com as frases de efeito de Wilde. Todas "absurdas", infaliveis, agudas. Engenhosamente feitas para não ir de encontro ao senso comum. Dessa forma tudo é dito ao contrário: mentiras mantém a honra de um homem e faltar ao trabalho dá dignidade à vida. Frases que lidas numa terceira vez começam a se mostrar muito mais sérias do que aparentavam ser. Debaixo de todo aquele riso ebuliente do dandy Wilde começa a surgir um leve gosto de desencanto.
O mundo de 2011 não pode ter mais um Oscar Wilde porque produzimos tantos falsos Wildes nas décadas passadas que a forma se desgastou. O humor é hoje mais duro, cinico, violento, explicitamente politico. Oscar Wilde adoraria fazer stand-up ( para se exibir ), mas odiaria o humor do stand-up, o público do stand-up e o próprio nome: stand-up. Vulgar.
Assim como é a arte de Beardsley e de Whistler, os escritos de Oscar Wilde estão presos aquele momento específico. Uma nação em seu momento de esbanjamento, um império que sabia ( com apreensão ) iniciar então sua inexorável descida, decadência "de luxe", empobrecimento em clima de calma e volúpia.
Todos sabem como tudo terminou. Wilde na prisão e a Inglaterra esfacelada em duas guerras. Até hoje, e para sempre, aquela ilha está condenada a chorar e festejar aqueles últimos anos de liderança. Oscar Wilde é um desses últimos suspiros.