BOB DYLAN, O HOMEM QUE ESTRAGOU TUDO

Coincidentemente, o rocknroll é destruído nos anos 60 por três homens que nasceram sob o mesmo signo: Brian Wilson, Paul MacCartney e Dylan.
Mas como? Esses caras destruiram o bom rocknroll???? Weeelllll.... de certa forma, sim. Pois Brian Wilson traz à velha tosqueira de Chuck Berry a finesse de arranjos sinfônicos e essa coisa do cálculo rumo à perfeição. Nada menos rocknroll que arranjos ambiciosos. Paul institui a ditadura do bom gosto, do denominador comum. Com Paul, os pais que ouviam Sinatra e Dean Martin passam a ouvir Yesterday e Here There and Everywhere. Mas ninguém foi mais nefasto que Dylan.
Bob Dylan, sózinho, institui essa praga chamada de "rock como forma de arte", outra peste chamada de "artista sensível e sofrido" e por fim, a catástrofe do menestrel e seu violão. Dylan é pai de Lennon, Morrison, Lou, e sua nefasta imagem segue até Thom Yorke e toda cantorzinha mala falando de verdades sobre seu ser. É de Dylan o primeiro album duplo, o primeiro single com quinze minutos e as primeiras letras cabeça. Ele enterrou o rock como puro fun e deu para todo guitarrista ambicioso o desejo de ser relevante, relevante como Bob Dylan.
Mas eu adoro Bob Dylan!!!!! Um cara que faz ITS ALRIGHT MA, I'M ONLY BLEEDING só pode ser um gênio. Tudo o que ele fez entre 64/74 é instigante, e foi ele quem deu respeito e dignidade ao rock. Foi com e por Dylan que escritores intelectuais passaram a levar o pop jovem a sério. Mas a herança que ele deixa, seus filhos bastardos são de lascar!!!! ( E o mesmo digo sobre Brian e sobre Paul. Geminianamente tenho uma posição ambígua sobre os 3. Amo-os e ao mesmo tempo me irrito com sua abundante produção e sua má inflência ).
Dylan foi maior que qualquer outro nome no rock ( os Beatles eram 4, os Stones eram 3 ), e ainda agora serve de exemplo aos roqueiros velhos e calejados. Há uma dignidade sóbria em sua imagem, em meio a toda aquela idolatria e pretensão ele se mantém distante, frio, quase impessoal. Nada nele mira o puxa-saquismo tipo: vejam como sou legal; e também nada tem o traço do escândalo. Discrição, sempre.
Há um filme obra-prima de Todd Haynes, NÃO ESTOU LÁ, que vai te dar uma breve idéia do que seja ser Dylan. Além do que, como cinema, é das melhores coisas feitas nos últimos vinte anos. Fernando Pessoamente ele criou máscaras onde nem ele mesmo pode mais se encontrar. Como Rimbaud, ele é um outro.
Mas esse é o problema: falar de Pessoa e Rimbaud em texto sobre rock é o fim do próprio rock!
A melhor homenagem a Robert Zimmerman seria escutar um velho disco de blues, e recordar que em meio a toda aquela confusão o que ele sempre desejou foi ser um negro velho com um violão em meio as estradas do Mississipi....
Jamais haverá outro igual.