VITORIA- JOSEPH CONRAD

Este é um dos livros de Conrad que não foi reconhecido em seu lançamento. Hoje é clássico. Como em todo texto desse polonês anglófilo, é a aventura que se faz presente em toda página. Mas o subtexto é todo existencial, pessimista, labiríntico. Temos como cenário uma ilha e um porto. Heyst é um holandês que procura viver sem se envolver com a vida. Schomberg é um hoteleiro alemão que o detesta. Toda a primeira parte do livro é a história desse auto-isolamento e desse ódio. Mas a vida procura Heyst, na forma de um amigo e de um sócio. Heyst se deixa levar, friamente, com distanciamento. Depois ele se envolverá com uma inglesa perdida por lá. E esse envolvimento será fatal. A mulher em Conrad é sempre um vazio. As mulheres mal aparecem e quando surgem destroem tudo a seu redor. Heyst ao se unir a Lena se torna fraco. Seu mundo de coloca em xeque, suas certezas se vão. O holandês torna-se uma vitima frágil de turma de ladrões que lhe roubam a paz. Nossa percepção dos personagens muda ao passar das páginas: Heyst passa a ser odiado por sua passividade tola, seu esnobismo espiritual. E Lena se mostra uma apaixonada que se define apenas nessa paixão. Ricardo, um dos ladrões, também sucumbe no contato com a mulher; e seu chefe, o aristocrático Jones, é homossexual ciumento. Para Conrad é a mulher Eva inocente e serpente inconsciente. Lena não tem culpa alguma, mas seu toque destroi todo homem que se deixa ficar. Mas há mais, na passiva fraqueza de Heyst e na fragilidade classuda de Jones anuncia-se o futuro do homem, raça de seres sem coragem, sem ação e desprovidos de dons para a aventura. Vítimas de mulheres tolas. Se Joseph Conrad acertou ou não é indiferente. O que fica é uma certa perturbação por personagens tão inconscientes e situação sem qualquer traço de coragem. Em Vitoria, título irônico pois todos perdem, a covardia é a caracteristica humana. Terrível polonês....