MÚSICA É SEMPRE UMA PRECE

Tá tudo nela. Certas músicas, todas as que valem a pena, são preces voltadas para o sol ou para o âmago de voce mesmo. Desde Buxtehude até Bruce Springsteen, música é confissão sem verbo, é esperança sem deus nenhum, é êxtase irrecuperável. Memória sem palavra. Porque o homem jogado no metrô, olhando seus pares lá jogados também, faz uma prece para o resto, para restos humanos, e toda canção que vale a pena é uma estrada percorrida por um poeta. Não se iluda, toda arte aspira a ser música. Quando ele solta a voz eu choro. E enquanto sua guitarra uiva eu me encontro em si. Hesíodo já nos dizia ( quantos séculos? Éramos nós? ) que as musas tudo iniciaram com dança e música. O mundo criado por sinfonia. Antes de tudo, portanto, melodia. Antes de abrirmos os olhos, som. E posso dizer então ( sem medo e vergonha ), em 1993 HUMAN TOUCH salvou minha vida. As lágrimas que derramei então foram para minha musa daquele inicio. Tudo que vale é musical. A morte é a ausência de música. Mortos não cantam, não dançam, não têm ritmo. As musas se esquecem dos mortos. Então leremos livros que são sinfonias e assistiremos filmes como canções. Shakespeare está perto de Beethoven e John Ford é como Bach. Bruce e The Band rima a Whitman. Yeats é Debussy??? Tudo que é vivo quer ser música. O inseto que voa e a fera que nasce. Fazemos amor em compasso de suores e harmonia de cheiros. As estradas levam a músicas que indicam rumos. E mortos não escutam as melodias ou marcam ritmo com o pé. Morrer deve ser muito chato.