PARA QUE SERVE A POESIA?

Quando ia a sua casa ele logo entendeu, que tudo o que eu mais temia era meu desejo que dizia. Mas então se era a loucura o medo mais real, louco eu queria ser, um homem original... Para que serve a poesia? Para dar vida as coisas mortas. Para que serve a poesia? Para tolerarmos aquilo que morre. Para que serve a poesia? Para saber morrer. E ele disse em sala cheia: Se a poesia não houvesse sido criada no passado, ela existiria hoje? O homem de agora criaria a poesia? Dar vida a coisas mortas, fazer nascer o que nascido está, iluminar o medo e desafogar o afogado. A poesia nasceria hoje? Quando estive naquela sala, onde o nada imperava, tudo o que eu falava, dor/medo e saudade, era em forma de verso e de encanto. De onde vinha essa magia? Ao nascer eu fui roubado e outro ficou em meu berço, este aqui que meu pai viu, este aqui que minha mãe criou, este não sou eu. Ao nascer eu fui levado por um beijo. E da janela posso ver aquele que está em meu posto. E ela me espera, eu que fui roubado. Esse que lá ficou conta. Eu que fui beijado nunca cesso. Para saber morrer é preciso viver. Epifania. Em 1991 Apolo me acenou na forma de luz e de letra impressa. O raio de sol entrou pelo meu olho e me cegou para fora. A canção de Yeats saiu do livro e saiu de mim ( eu já a sabia antes de a conhecer ). Epifania. Um deus falou em minha vida. Aquela tarde, 28 de abril de 1991, jamais foi deixada. A água tragou minha vida então. Ofélia acenando na névoa. Crianças roubadas todas as noites. A lua sabe. Meus pés estão na lama da ilha. Para sempre e mais algum tempo mais. Para que serve a poesia? Unir a criança e reavivar a lama. Perder a razão e o medo de se ir. A janela, a janela, a sempre presente janela. Este mundo criaria a poesia? Mas a questão é: a poesia criou este mundo? Uma criança lê the stolen child.