O DINHEIRO E O MAL ENTENDIDO. "RAZÃO E SENSIBILIDADE"- JANE AUSTEN

Jane Austen, segundo Harold Bloom, cria nos primeiros anos do século XIX o moderno romance inglês. Mais que isso, ela cria um certo tipo de padrão da alma inglesa. O fato de que em 2011 seus livros continuem a vender muito, filmes sejam adaptados de suas obras e fãs se devotem a seu culto, torna-a uma figura chave da história do romance. Ela é hoje mais cultuada que Balzac ou Flaubert, não é pouca coisa.
O dinheiro é o centro de seus textos e nisso ela é muito atual. Cada ação corresponde a um desejo de ascenção social e esse desejo é sempre insaciável. O amor "parece" ser o que motiva os personagens, eles sofrem por ele, lutam por ele e se enganam sempre em mal entendidos, fofocas, falsas expectativas. Mas por trás disso, sempre há a busca do conforto, do aumento de fortuna, do poder. As mulheres parecem, e acreditam ser, desinteressadas, idealistas, romanticas, mas todo o tempo elas se debatem em mundo que apenas repete a ladainha da fortuna, da segurança, do futuro. E esse dinheiro sempre acaba por prevalecer.
Austen faz uma critica suave, suave porém eficiente, a esse modo de vida. Exibe a afetação ridicula, a falta de contato com a realidade dessa classe ociosa que fez aquilo que conhecemos como "mundo moderno". Eles têm poder mas não sujam as mãos com trabalho. Vivem de renda, de aplicações, de negócios misteriosos. O dinheiro é amado, mas o ato de o produzir é escondido. Jane Austen percebe a tolice dessa classe snob, ociosa, entretida em festinhas, flertes, caçadas e conversas cheias de inverdades e mistérios ocos.
O estilo é limpo, simples, quase cinematográfico. Jane Austen não é narrador que se impõe, ela conta e nos deixa livres para pensar. E o que pensamos é que seu mundo não é tão diferente do nosso, seu modo de ver estava bastante adiante do tempo e sua popularidade é aquela de quem encontra a atemporalidade ao ser simples. Longe de ser tão genial como Flaubert ou tão rica como Balzac, Austen leva a vantagem de ser próxima, calorosa, confidencial.