Os Stones fizeram em 1964 um contrato com a Decca muito melhor do que aquele dos Beatles com a EMI. Se tornaram a banda mais rica do mundo e a mais paparicada pelos milionários. Ao mesmo tempo posavam de reis dos revolucionários e dos insatisfeitos do mundo, papel que ficaria muito melhor em qualquer cantor de blues da Geórgia.
A história dos Stones é sempre uma história de muita sorte ( e é isso que irrita aqueles que insistem em crer que arte é sofrimento ). Lendo o livro de Keith, o que vemos é uma vida onde tudo sempre dá certo. Ele não morreu jovem, logo ficou rico, sobreviveu aos punks e aos grunges e tem uma imensa e saudável familia. Chega a dar raiva!
Keith é injusto várias vezes. Resmunga sobre Jagger. Diz que em 1983 Mick tentou tomar os Stones para si, e que em 1985 Jagger cometeu a deslealdade de se lançar em carreira solo. Ora Keith! Voce ficou oito anos como um peso junkie nas costas de Jagger! Quem já conviveu com um viciado sabe o quanto eles são chatos! Jagger levou a banda sózinho entre 73/81. E cá entre nós, sem Mick Jagger nos vocais, voces seriam no máximo um The Who.
Isso é chato no livro. Keith tem um ego do tamanho do de Jagger, mas ele posa de doidão-blueseiro, o rei da honestidade. Será? Se o Mick de 1961 morreu nos Rolls Royce e nas noites de Cannes e Monte Carlo, o Keith timido e humilde de 1962 se foi nas carreiras de pó e nas agulhas de heroína ( e dá uma sensação ruim vê-lo defender o bom consumo de drogas ).
Mas ninguém é perfeito. Mesmo cheirando carreiras nos palcos entre uma música e outra, mesmo tendo feito dois dos piores discos da história ( Dirty Work e Steel Wheels ), mesmo tendo feito aquele show lastimável em Copacabana, quem sabe o que é rocknroll sempre vai entender o porque de sua importância. Eles são espertos, maus, soberbos, egocêntricos, auto-centrados e nada sofridos. E por isso são vencedores, o tipo de cínicos sexies, coisa que os Beatles ou o U2 nunca puderam ser ( estavam ocupados em ser os tais "artistas relevantes" ). Os Stones sempre souberam que rock é irrelevante, que depois de Chuck, Elvis e Little Richard todo o resto foi diluição.
Foda-se! Eu tinha de defender Mick Jagger ( que tem a elegância de se manter calado ). Dizer, que ruim Keith!, que Mick tem o pau pequeno é muuuita sacanagem!
Mas fazer o que? Keith é a própria imagem da coisa, gostar dele é o teste para se saber se voce está por dentro do que seja rocknroll ou se voce está irremediávelmente por fora. Se a sua turma é do carrão/garotinhas/riffs de foder ou quarto/lágrimas/melodias tristonhas.
A gente pode dizer que o cara tem muita, muita sorte...