INCONSCIENTE COLETIVO- CARL GUSTAV JUNG

Deus está morto! Ao dizer isto eles mesmos ( intelectuais niilistas ) se tornam deuses- deuses enlatados, crânios de paredes grossas e coração frio. O conceito de Deus é simplesmente uma função psicológica necessária, de natureza irracional, que nada tem a ver com a questão de sua existência. A idéia de um ser divino e todo poderoso existe em toda parte. Quando não é consciente torna-se inconsciente- é arquetípico.
Por isso acho mais sábio reconhecer a realidade da idéia de Deus. Caso contrário fica em seu lugar uma outra idéia, uma coisa qualquer, asneira ou bobice total - invenções de consciencias "esclarecidas". Pobres e vazios substitutos, normalmente terminados em "ismo" : catolicismo, comunismo, capitalismo, nazismo, intelectualismo...
O homem tem todo o direito de achar sua razão belíssima. Mas ela é apenas uma faceta de seu psiquismo. E conseguirá entender apenas o que a ela compete: coisas lógicas e racionais. Todo o resto, Deus inclusive, será impossível a seu entendimento.
Tudo existe em seu contrário. Energia ou vida é a interação, conflituosa, de contrários: noite e dia, fogo e água, homem e mulher, razão e irrazão, consciente e inconsciente. Quanto mais racional se torna uma civilização, mais ela se torna fascinada por coisas irracionais ( discos voadores, astrologia, cientologia, viagens no tempo, vampiros, magia negra, religiões de mercado, livros exotéricos, drogas e álcool ), e quanto mais irracional, mais ela se torna refém da razão ( comunismo, nazismo, linhas de montagem, revolução industrial- todas construções racionais em meios regidos por irracionalidades ).
Se o homem tem uma boa relação com seus deuses ele não cai nas malhas de falsos deuses. Falsos deuses são os seres criados pela razão que procuram ocupar esse vazio. Uma religião baseada em preceitos racionais é tão prejudicial quanto uma ciência nascida no irracional. A verdadeira religião é fruto do incompreensível, do mais profundo e imutável caráter humano, daquilo que não tem tempo ou censura, do inconsciente coletivo, é aquilo que fala tanto a um europeu do século xx como a um aborígene de milhares de anos atrás.
Durante milênios o homem possuiu plena fé em deuses. Ele lidava com suas imagens interiores jogando-as para fora. Toda maldade de seu ser era projetado em demônios e todo poder em deuses e anjos. A partir do iluminismo essa crença se rompeu. Mesmo o mais beato dos cristãos passou a conhecer a dúvida. Essa rica coleção de imagens, criadas pelo inconsciente, tornaram-se prisioneiras, passaram a viver dentro do homem, trancafiadas. Jamais morrerão, são parte da vida humana como o fígado ou o reflexo do joelho. Mas o segredo de sua leitura se perdeu.
Ninguém nunca conheceu um demônio. Ou um deus. Mas todos temos essas imagens dentro de nós. Em toda cultura e desde sempre. Porque? Por que eles vivem em nós. Todos somos diabos e anjos, todos somos heróis e carrascos. São símbolos inatos que independem de nossa cultura, de nosso tempo ou de nossa história pessoal. São arquétipos.
Todo Tempo tenta preencher esses arquétipos com pessoas reais. Pessoas que cruzam o rio e se tornam mitos. Jesus Cristo é o maior desses mitos. Mas existem outros. Julio César, Napoleão, Da Vinci, Ghandi, Buda, Maomé, Alexandre, São Paulo... o que pergunto é: que mitos criamos hoje que nos ajudam a lidar com esses arquétipos? Qual a qualidade transcendental dos mitos de agora? Algum mito do século nos ajuda a caminhar entre a fronteira da vida/morte, consciente/inconsciente?
Há assunto mais fascinante?