ANDAR DE AVIÃO EM 2011

Ônibus com asas. Lembro que andar de avião era ter a sensação de se estar em hotel com asas. Cheguei a ver crianças brincando de madrugada no corredor. E gente indo a Frankfurt com toda a fileira de poltronas vazia.
Havia um jantar grátis com salmão, souflé e charlotte. Sempre que voce queria, a aeromoça trazia whisky ou vinho. A cadeira era reclinada até se tornar cama e dava pra ignorar todos os outros passageiros. Pois é.
A classe c agora pode viajar e antes que me chamem de elitista deixe explicar o que penso.
É tudo uma grande enganação. A classe c ao poder agora viajar, deveria ter o tratamento que havia antes deles subirem. O que está havendo é o REBAIXAMENTO do vôo e não a SUBIDA das classes menos favorecidas. E é em tudo assim. Mas antes vou fazer um adendo:
Se no século XIII era um crime duvidar da igreja e se no século XVI voce era morto por duvidar do rei; me parece que hoje é um tipo de loucura duvidar daquilo que ciência e publicidade ditam ( é uma ditadura ). Tudo o que é dito por um cientista, com apoio da propaganda se torna édito papal ou vontade do rei. Dito isso...
Nunca se escreveu tanto. É uma verdade apregoada pela maioria. Sim, nunca se escreveu tão...mal. E não falo só de quem escreve vose ou fasil. Falo de uma elite que estudou no Dante e na PUC e que é incapaz de acompanhar uma peça de Shakespeare ou entender uma página de Proust. Nunca se vendeu tanto livro...ruim. Não haveria problema se isso fosse porta de entrada para coisas melhores. Voce começa lendo Paulo Coelho ou John Grisham e depois passa a Stendhal ou Houellebecq. Mas não. Começam com Scott Turow e chegam no máximo a Michael Chabon ou José Saramago. Nada mais. E nunca se ouviu tanta música... péssima. O povão ouve funk e sertanejo, músicas que fazem com que os grandes vendedores de trinta anos atrás ( Fabio Jr, Benito di Paula, Alcione ) pareçam finos e criativos. ( Não falando de Roberto Carlos, que é sim nosso Sinatra ).
O que está em processo é uma queda do gosto e da cultura DA ELITE. Assim como acontece com vôos internacionais, o povão subiu um degrau, mas não encontrou nesse novo degrau aquilo que a elite consumia antes. Trouxe seu ambiente cultural para o andar de cima e o povo desse andar perdeu qualquer tipo de referência, 'DEIXOU DE SER ELITISTA".
Se antes havia um desejo de um dia se entender o cinema de Bergman ou os livros de Tolstoi, hoje há uma atrofia de ambição intelectual. A elite se contenta com resumos ou pior, falsificações de bons autores. Se sujeitam a atendimento classe C em restaurantes, lojas, hotéis e shows. E pior, acreditam estar caminhando para mundo melhor, onde ciência e propaganda proverão tudo aquilo que importa.
É hora de um novo Voltaire e de uma nova Bastilha. Viverei para ver isso ?
PS: em julho de 1976 minha mãe ( classe turística ) estava no Galeão quando seu vôo TAP rumo Paris atrasou. Das 22 passou para o meio-dia do dia seguinte. O que a companhia fez ? Hotel no Leblon para todos ( quatro estrelas ) com jantar e café da manhã. Grátis, lógico. Ser tratado assim hoje, só se voce for de Hollywood ou deputado federal.
PS II: Quando falo em Voltaire falo em pessimismo ativo. Alguém precisa dar um safanão neste mundo tão "felizinho". E derrubar o pensamento único da Bastilha.