QUANTO EU DEVO A BLAKE EDWARDS....

Eu devo a ele minha comédia favorita. Sei que não é a melhor ( a melhor é Levada da Breca, de Hawks ) mas é o filme que mais me fez rir. Essa comédia é UM TIRO NO ESCURO, que balançou a crença que eu tinha aos 18 anos de que filme "bom" era filme dificil. Arte só podia existir em Antonioni, Bunuel, Bergman e que tais. Mas numa noite de sábado, deprimido, assisto a Peter Sellers criar um personagem eternamente vivo, ouço Henri Mancini com sua trilha sonora de gênio e vejo Edwards orquestrar tudo isso. Foi uma madrugada que jamais esqueci. Minha visão de cinema começou a mudar e me coloquei uma questão que coloco até hoje : o que Blake Edwards tem de menos que John Cassavettes ou que Fassbinder ? Pretensão talvez.
Mas o mundo não mudou. Hoje continua a se pensar que genial é aquilo que se parece com aula ou com museu. Na Itália da época se cultuava Elio Petri, Mauro Bolognini e Francesco Rossi. Mas Monicelli era "apenas" um diretor de comédias. Nos USA se cultuava Martin Ritt, Franklyn Schaffner e Arthur Penn, mas não Blake Edwards. Porque amamos tanto quem nos faz rir, mas só damos valor intelectual a quem nos faz sofrer ? A quem parece sério e só fala de temas sérios com sisudez ? Não é muito mais nobre rir da seriedade ? Arrancar risos da tragédia, sem negá-la ?
Blake fez vários filmes ruins. E até alguns muito ruins. Mas tem seis grandes filmes. E desses, os que mais gosto, além do Tiro no Escuro, são O CONVIDADO BEM TRAPALHÃO, VITOR OU VITÓRIA ( um dos melhores filmes dos anos 80 ) e BREAKFAT AT TIFFANYS, o filme mais lembrado do ícone Audrey Hepburn.
Ele tinha classe, tinha gosto e sabia ser ácido. Se une a Keaton, Chaplin, Hawks, Mel Brooks, Chuck Jones, John Landis, Steve Martin, como aqueles caras que deveriam ter tido muuuuuito mais reconhecimento por Oscars, Cannes, Veneza e etc.
Ou talvez não. Talvez ninguém seja mais reconhecido que Chaplin, Groucho, Eddie Murphy, Tati ou René Clair. Talvez os prêmios sejam apenas consolo para aqueles que não conseguem ter o amor popular que gente como Jerry Lewis ou os Monty Python sempre tiveram/têm.
Pois por mais que eu admire Ingmar Bergman e Godard, é para atores/diretores que me fizeram rir que dirijo meu afeto. Para aqueles que consolaram minhas deprês, que aliviaram minha dor e que restauraram a minha fé na vida.
E para gente como essa, todo o amor lhes é devido.