1967.
Como diz Keith Richards em sua hilariante biografia, foi em 67 que tudo se definiu. Os moldes se criaram. E em 1967 todo cinéfilo se dividiu entre WEEK-END de Godard e BONNIE E CLYDE de Arthur Penn. E ainda havia Mike Nichols com A PRIMEIRA NOITE DE UM HOMEM e Antonioni com BLOW-UP. Filmes que criaram os nichos onde os diretores pretensiosos se instalam até agora. Godard e Antonioni criando o filme "não entendi nada", Nichols dando ao mundo o primeiro filme de "adolescente nerd gracinha" e Penn o filme de "ação com cérebro".
Pouca gente em 1967 notou que o grande sucesso popular daquele ano, THE GOOD THE BAD THE UGLY de Sergio Leone, era possivelmente o melhor filme. Não só o melhor, mas sim o mais atemporal.
2008.
Toda uma geração de cinéfilos jovens cultua o filme de Leone. A obra desse italiano genial é estudada, copiada, citada, amada, divulgada. E cria-se uma certeza, a de que existem dois tipos de cinéfilos : os que amam Leone e os que apenas adoram Leone.
2010.
Cineastas, muitos, principalmente na América, continuam a estudar Godard. E Penn, Nichols, mas não Antonioni, que continua restrito a Europa. Mas eles copiam principalmente Leone.
E Leone idolatrava Kurosawa.
Fecha-se o circuito. O oriente olha para a obra do italiano. E vem esta homenagem. Este filme coreano, este espetáculo.
A corrida atrás de um mapa. Sangue e algum humor. Kim Jee-Woon não tem o dom de poesia que Leone tinha. Mas este não é um século poético. Este filme chupa o sangue do filme de 67, mas é um filme absolutamente de hoje, de agora, já!
O cinema americano está cansado. Mesmo quando surge um grande filme, há uma sensação geral de que ele pode ser o último, ou pior, a de que foi um acaso. A linha histórica de grandes obras e grandes mestres foi desfeita. O cinema ocidental não requer mais grandes cérebros originais. Ele pede grandes comunicadores. O que é beeeem diferente. O que importa é vender seu produto, mesmo que ele pareça anti-comercial ( só pareça ).
No oriente existe a vitalidade. Lá ainda se crê na festa que o cinema é. Ainda se tem a sensação de que HÁ MUITO POR SE FAZER. Os roteiros não têm medo. Vão fundo no ridiculo, na farsa, no pastiche e em outro extremo, no hermético. Seja China, Japão, Coréia, Irã ou Tailandia, o cinema do oriente corre riscos, propõe exageros, vai além da pasmaceira. Tem cor, ainda.
Este filme é uma festa. Deixaria o Spielberg de 1981, deixaria o Tarantino de agora, extasiados. Seu único defeito é a trilha sonora terrível. Mas ele tem tanta ação, criatividade, suspense, cor, ritmo, inteligencia, arrojo, que nos sentimos como em festa, festa de cinema.
Vejo que ele faz parte do livro 1001 FILMES PARA SE VER ANTES DE MORRER. E foi enorme sucesso na Europa e Ásia. Kim Jee-Woon. Guarde esse nome. O cara sabe tudo....