OS LIVROS DE TRUFFAUT

Relendo os livros que Truffaut escreveu. Tem uma frase que o norteia: "Me interessam os filmes que demonstram o prazer ou a agonia de se filmar. O que fica no meio não interessa."
François Truffaut ( assim como Godard, Rhomer, Chabrol e Rivette ) foi crítico dos Cahiers. Se cansou de ver filmes engessados, sem vida, e resolveu fazer seus próprios filmes. Portanto, François começou como jornalista. Polemista. Agitador.
Não concordo com o desprezo que ele tem por Clément, por Clair e por Becker. E abomino o ódio que ele tem de John Huston. Mas seu mais belo texto é um mea-culpa. Convalescendo, Truffaut descobre a genialidade de John Ford, diretor que ele não achava tudo isso. Eis na maturidade e já famoso, Truffaut enxergando a maravilhosa simplicidade do mestre americano. François diz: " Ford faz poesia mas não é poeta. Ford é um gênio modesto."
Acho que François exagera os elogios à Lola Montés. Max Ophuls é ótimo, mas não esse filme. Assim como vejo exagero nos elogios a Renoir.
Mas sua homenagem a Vigo é comovente. Assim como é certeiro o modo como ele analisa Lang, Capra, Lubistch e Hitchcock. Ele era um escritor que exalava prazer. Há verdadeira alegria no modo como ele propaga a descoberta de Aldrich, Lumet ou Fuller. Seria maravilhoso ter alguém como ele escrevendo sobre Tarantino ou sobre os irmãos Coen.
Críticos hoje ( com poucas excessões ) gostam de parecer blasé. Temem o amadorismo que pensam poder se revelar no ato de se amar um filme ou um ator. Críticos hoje não têm o prazer ou a agonia de escrever.
No final, a definição do que seja um "autor" é perfeita:
É aquele que sem saber como e sem o querer, está sempre, no modo como coloca a câmera e seus temas, dando pistas sobre sua alma. Mas atenção! O grande autor sempre se dá desafios. Ele varia seus objetivos e se propõe soluções. O grande autor não nos dá apenas grandes filmes. Ele é uma grande obra.
Dreyer tem então destacado o modo como ele filma o "branco". Os brancos de Dreyer como prova de sua fé e de sua genialidade. E Bergman mostra faces como ninguém. Ele penetra nos rostos e nos olhos e revela almas inteiras.
São visões assim, definitivas, que fazem a leitura valer a pena.
PS: François reclama da mania do close ( em 1969 ). Penso no que ele sofreria agora, em ver filmes-tv, closes e mais closes e nenhuma grande cena aberta.
O cinema encolheu. Não existem mais apaixonados como Truffaut.