Cenas que parecem não fazer sentido. Farão. Quero não ver. Vejo.
Aridez. Um menino se ergue de cama. Um rosto imenso na parede. O toque. Tudo é branco. Tudo é vazio. Ingmar sabe como é nosso inconsciente. Desolado e sem tempo. Eterno agora.
Atriz ficou muda. Enfermeira cuida dela. Quando vão para a praia o filme começa.
( Ignácio Araújo disse que hoje indicar Morangos Silvestres para alguém é considerado ofensa pessoal. Tristes tempos em que pensar é desejar o mal ).
Na praia. É uma ilha?
Somente a enfermeira fala. Bibi Andersson. Liv Ullman está muda por todo o filme.
Mas não há uma cena em que ela fala?
( Pauline Kael diz que a cena em que Bibi descreve uma transa na praia é "a única cena em cinema que entende o erotismo" ).
O filme começa a penetrar fundo, muito fundo em minha mente.
Sinto medo.
( Bergman foi filho de pastor. O pai lhe batia e depois exigia beijo na mão. A mãe variava entre frieza extrema e calor amoroso. Foi assim que Bergman aprendeu a observar rostos esperando o que viria a seguir. Ninguém filma faces como ele. E segundo Isabela Boscov, só ele tem a altura de seus temas- o sentido da vida. )
Começo a viajar no filme.
Seria Liv Deus? A enfermeira somos nós falando com Deus? Ele estaria mudo? Com Sua face de calma e indiferença? O sofrimento atroz de Bibi seria nossa dor? Onde Ele está?
Talvez não.
O filme se rompe literalmente. Precisamos ver sem a película.
Chega um homem que conhece a enfermeira.
Mas então as duas são uma? Ela seria a máscara e a outra a alma? Mas sendo assim a solidão deste filme é insuportável. Nossa vida nada mais seria que um diálogo entre eu e minha persona. Pior: diálogo onde um dos dois é mudo.
Falar com Deus também é falar com um mudo.
Mas há o rosto.... Bergman é o menino e as duas são sua mãe.
O desespero do filme é o desespero de um menino ( desprezado ) que tenta se comunicar com a mãe e falha sempre.
Mas é um filme apenas, vemos Sven Nykvist filmando.
O não e o nunca encerram o filme.
-----------------------------------------------------------------------------------------
Quando penso em diretor de cinema genial eu penso em Hitchcock ou Kurosawa.
Quando penso em gênio no cinema, penso em Bergman.
Está longe do cinema. Seu mundo é o de artes mais individuais, mais profundas, não espetaculosas.
Em seu alcance existencial, bergman só tem pares na literatura.
-------------------------------------------------------------------------------------------
O filme termina ( não termina )
Continua a se passar inteiro dentro da minha cabeça.
Tenho medo de dormir. Sinto uma solidão de gelo.
Acordo com ele dentro de mim.
Persona.
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O novo diretor japonês que também se chama Kurosawa ( e que é muito bom ) diz que na época de Ozu, Akira Kurosawa e Mizoguchi o mundo era mais feliz. Porque se acreditava no cinema. Hoje, tempos de finais, em nada se crê. )
Eu creio em Ingmar Bergman.
Aridez. Um menino se ergue de cama. Um rosto imenso na parede. O toque. Tudo é branco. Tudo é vazio. Ingmar sabe como é nosso inconsciente. Desolado e sem tempo. Eterno agora.
Atriz ficou muda. Enfermeira cuida dela. Quando vão para a praia o filme começa.
( Ignácio Araújo disse que hoje indicar Morangos Silvestres para alguém é considerado ofensa pessoal. Tristes tempos em que pensar é desejar o mal ).
Na praia. É uma ilha?
Somente a enfermeira fala. Bibi Andersson. Liv Ullman está muda por todo o filme.
Mas não há uma cena em que ela fala?
( Pauline Kael diz que a cena em que Bibi descreve uma transa na praia é "a única cena em cinema que entende o erotismo" ).
O filme começa a penetrar fundo, muito fundo em minha mente.
Sinto medo.
( Bergman foi filho de pastor. O pai lhe batia e depois exigia beijo na mão. A mãe variava entre frieza extrema e calor amoroso. Foi assim que Bergman aprendeu a observar rostos esperando o que viria a seguir. Ninguém filma faces como ele. E segundo Isabela Boscov, só ele tem a altura de seus temas- o sentido da vida. )
Começo a viajar no filme.
Seria Liv Deus? A enfermeira somos nós falando com Deus? Ele estaria mudo? Com Sua face de calma e indiferença? O sofrimento atroz de Bibi seria nossa dor? Onde Ele está?
Talvez não.
O filme se rompe literalmente. Precisamos ver sem a película.
Chega um homem que conhece a enfermeira.
Mas então as duas são uma? Ela seria a máscara e a outra a alma? Mas sendo assim a solidão deste filme é insuportável. Nossa vida nada mais seria que um diálogo entre eu e minha persona. Pior: diálogo onde um dos dois é mudo.
Falar com Deus também é falar com um mudo.
Mas há o rosto.... Bergman é o menino e as duas são sua mãe.
O desespero do filme é o desespero de um menino ( desprezado ) que tenta se comunicar com a mãe e falha sempre.
Mas é um filme apenas, vemos Sven Nykvist filmando.
O não e o nunca encerram o filme.
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Quando penso em diretor de cinema genial eu penso em Hitchcock ou Kurosawa.
Quando penso em gênio no cinema, penso em Bergman.
Está longe do cinema. Seu mundo é o de artes mais individuais, mais profundas, não espetaculosas.
Em seu alcance existencial, bergman só tem pares na literatura.
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O filme termina ( não termina )
Continua a se passar inteiro dentro da minha cabeça.
Tenho medo de dormir. Sinto uma solidão de gelo.
Acordo com ele dentro de mim.
Persona.
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O novo diretor japonês que também se chama Kurosawa ( e que é muito bom ) diz que na época de Ozu, Akira Kurosawa e Mizoguchi o mundo era mais feliz. Porque se acreditava no cinema. Hoje, tempos de finais, em nada se crê. )
Eu creio em Ingmar Bergman.