OSCAR WILDE - TEATRO

Entre 1880 e 1910 o homem atingiu seu ponto de maior brilho. Se preciso lhe explicar o porque, é sinal de que voce não faz idéia do que seja brilho ou homem. Não faz mal, voce tem sobrevivido mesmo assim.
Para todo o mundo fora das ilhas britânicas, Oscar Wilde é o autor de Dorian Gray e de alguns contos simbolistas. Para os ingleses ele é o autor de teatro mais amado após Shakespeare. Esse fato mostra a diferença entre a Europa e a ilha.
Como contista e autor de Dorian, Wilde é muito bom. Às vezes fascinante. Como autor de comédia teatral não tem igual.
Acabo de ler SALOMÉ, O MARIDO IDEAL e A IMPORTÂNCIA DE SER PRUDENTE. Me calo sobre Salomé. Drama poético enfadonho. O Marido Ideal já é Wildeana. Prudente é uma obra-prima.
Oscar Wilde foi um superstar antes do rádio e do cinema. Fazia tours pelo mundo onde se exibia em teatros repletos. Conferências e palestras sobre arte, estilo e poesia. Foi o primeiro artista a dizer que sua arte era secundária, sua obra-prima era sua vida. Todos hoje tentam ser Oscar Wilde. Ninguém sabe como ser.
Ele pregava o esteticismo. A beleza como bem supremo. Sendo belo, tudo é desculpável. Nada tem mais profundidade que a aparência. A arte deve ser bela. Não necessita de moral, filosofia ou sentido. Ao artista compete produzir beleza.
O pintor James Whistler seguia seu credo. Sua obra e sua casa ( e sua aparência também ) são esteticismo puro. O ilustrador Aubrey Beardsley ( que tem desenhos soberbos reproduzidos em Salomé ) é de uma sofisticação estética imbatível. Mas foi Oscar o papa arauto desse credo.
1880/ 1910 é tempo de auge humano porque é época em que as classes dirigentes do mundo possuíam o máximo de educação. O povo tinha uma educação grotesca ( como continua tendo ) mas os ricos e poderosos estudavam em escolas exclusivistas, exigentes e muito duras. O mundo atingiu seu apogeu porque nossos líderes eram muito bem educados. Ler os discursos de politicos da época, sejam ingleses ou brasileiros, americanos ou egipcios; e ler o que senadores e ministros falam hoje, é observar o nivelamento sob o mínimo que o século XX trouxe. Tempos POP jamais produzirão Churchill ou Roosevelt. Devemos nos submeter a Berlusconi e Lula.
Não ficarei citando as frases que cintilam em Prudente. A peça mostra a classe privilegiada fazendo absolutamente nada. O humor nasce da falta de sentido em tudo o que é falado, no inesperado em que corre todo diálogo, na leveza borboletante de sua ação. Toda a comédia mais brilhante do cinema tentou ser Wildeana.
Os melhores ingleses ( e sei que Oscar era irlandês ) pensam ser Wilde. Eles gostam de se imaginar como borbulhantes espirituosos, desajeitados romanticos, introvertidos poetas. Como estrelas esnobes e faiscantes estetas decadentes. Mas ninguém, nem mesmo Waugh ou Wodehouse, conseguiu se aproximar da absoluta maestria de Wilde em escrever sobre absolutamente nada.
Ler A IMPORTANCIA DE SER PRUDENTE é como assistir MY FAIR LADY : aula de bem-viver.
Oscar Wilde é total e irresistivelmente prazeroso. Nesse enredo de dois amigos que vão ao campo para propor casamento a duas mocinhas adoráveis, somos convidados a amar o cinismo, a mentira, a falsidade, o interesse e a frieza. Desde que tudo seja feito com tato e gosto, tudo é permitido. Ao fim do texto concordamos com Oscar. Se bem dito, o revoltante é inebriante.
De Wilde, nestes tempos Wildeanos, se pegou o menos perigoso. O culto ao star, a fé de que maior que a obra é o artista, e uma afetação esnobe. Mas se esquece que tudo isso vinha com a genialidade de se unir idéias contrárias e fazer nascer uma nova verdade, o humor fino que é feroz mas é sempre elegante, a construção de trilha de ironia e de ambição.
Ele só foi possível em mundo otimista. Aplaudir ao divino Oscar é nossa devoção.