OCIDENTE E ORIENTE, O MEDITERRANEO

2500 anos atrás. 500 a/c. O oriente grava suas impressões digitais. Penso na terrível realidade que fez com que o pensamento se engolisse e negasse a própria realidade. No oriente a vida se torna ilusão. A dor e o desejo não são reais. Em seu aspecto mais elevado esse modo de pensar nos leva a calma absoluta. Em seu pior lado nos dá a indiferença a miséria e a aceitação da injustiça. Mas estou aqui para falar do mar, do Mediterraneo, terra-água onde nasci.....
Penso agora nas maravilhas que se descortinaram aos olhos ainda virgens desses curiosos-arrogantes. A diferença entre ocidente e oriente se faz. Se eles negam a realidade e tentam chegar a paz completa, cabe a nós tentar entender o porque das coisas serem como se apresentam. Nós não negamos nada, tudo queremos saber. Em seu melhor esse modo de ser leva a criação de novos mundos. Em seu pior à ansiedade sem fim.
Mas eu penso na história de amor. Em que aqui não é mundo para misticismos. Os deuses aqui, no ocidente, são todos deuses humanizados. São Eros, Thor ou Éfeso. Aqui se vive com o porque da filosofia. Não com o "assim é" do oriente. A religião aqui é fraca, pois não são o judaísmo e o cristianismo também orientais?
Cultua-se o oriente como se lá existisse o segredo da paz. A luz da verdade. O budismo nasce, belo sim, como luz, ou como negação da dor fingindo-se não existir? Se eu fechar os olhos o lobo deixa de existir. É essa toda a sabedoria? Se a vida é ilusão e se o desejo é o mal então para que viver? Para se apurar a alma? Deixar de encarnar?
Enquanto o oriente fecha os olhos os gregos pegam as coisas e as observam de perto. O que é isto? Não posso deixar de amar o oceano Mediterraneo, berço de paraísos. Se os orientais procuravam negar a enchente do rio, o tigre feroz e a fome que mata, cabia aos gregos entender o que é a chuva, o que é ser um homem e como diminuir a fome. Não posso deixar de amar esse mundo ocidente, feito de um mar mediterraneo para um atlantico. Mundo barco, mundo navio, esse Prometeu que rouba fogo de um deus, esse mundo que não nos dá paz, trégua ou alivio, mas que nos deu Beethoven, Shakespeare e Kant.
Pois aquele grego jamais fechou seus olhos. Tentou ver a beleza na vida e entender o porque da dor macular tanta luz. A história do ocidente é um navegar eterno e no oriente se medita e se ora. Nós aqui comemos até explodir, olhamos até cansar e falamos até morrer. Tínhamos de criar o amor e tínhamos de navegar até descobrir ainda mais ocidente. Nós temos sempre de ir. Não nascemos para estar.
Já senti a felicidade oriental e é ela como um morrer, um concluir, um fundir.
Mas a felicidade ocidental é um gozo espiritual, um resplandecer de força, um riso imenso, um irradiar de poder. É todo corpo. É aqui. Dionisio e Apolo.
Sou grego e no mar mora minha dor. Nasci assumindo todo pecado do passado e orando para deuses que são homens. Quero ver, quero ser, quero a eternidade. Eu desejo todo o tempo. Se a miséria existe faço dela poesia. Se a dor bate canto sua sina. E o que não entendo penso.
Porque sou portugues da beira do oceano e me joguei ao fundo onde achei um mundo. Não medito, crio.
Do ocidente filho. Mito.