SCORSESE/ FANTASIA/ GROUCHO/ NUM LAGO DOURADO/ TERREMOTO

NUM LAGO DOURADO de Mark Rydell com Henry Fonda, Kate Hepburn e Jane Fonda
Kate derrotou Meryl Streep, Susan Sarandon e Diane Keaton em 1982 com este filme, levando seu quarto Oscar. Henry, cinco meses antes de morrer levou o seu. Ele está fabuloso ( nunca o ví menos que fabuloso ) nesta melosa história de casal de velhos que passa férias em casa à beira de lago. Lá eles recebem visita de filha problema ( Jane, bela e aparecendo pouco ) e tomam conta de filho do novo namorado da filha. Henry consegue passar tudo o que significa ser velho : ter medo de morrer. Seu velho nunca se parece com uma piada. O filme nunca pesa demais, tem momentos de muito humor e é representante da reação do cinema-família contra as loucuras dos anos 70. Fez imenso sucesso e recordo de o ter visto sobre o Atlântico, no avião voando rumo à Frankfurt. Reparo também que é um tipo de filme completamente extinto. Ninguém é neurótico, ninguém tem emprego esquisito, nem é muito rico ou miserável. Nada ocorre de sensacional, é apenas gente banal em momento importante e inevitável. O filme se deixa ver, e passa como canção nostálgica. Tudo nele é bonito demais, limpo demais, mas os atores levam a história com brilho e conseguem dar vida ao que dizem e fazem. Nota 6.
FANTASIA de Walt Disney
Após o imenso sucesso de Branca de Neve, Walt gasta tudo o que tem e vai à falência tentando provar ser artista classe A com este muito metido desenho. Fantasia levou anos para ser feito e foi detestado por público e crítica. Walt se salvou com Dumbo e Pinóquio, e nunca mais se arriscou. Este desenho são clips de música erudita. Interessante notar como desde então o mundo inteiro se disneysiou. A forma como este filme vê a arte é absolutamente infantil. A sexta de Beethoven se torna uma fábula de pseudo-mitologia, com cavalinhos alados, centauras ninfas e muita pedofilia. Seios nús e muitas bundas de bebês, mas tudo bem gracinha, bem Disney. A Sagração de Stravinski, que é hino de paganismo, aqui é história sobre a criação da vida. É muito bom, é legal ver mares em erupção, vulcões, fogo e dinossauros. Mas nada tem de Stravinski. O final tem Mussorgski, em cena que cita ( plagia ? ) o Fausto de Murnau. Demônios e assombrações. Deve ter apavorado as crianças... Há ainda Dukas, Tchaikovski, Schubert... velho problema do mundo pseudo-intelectual : pensar que citar autores significa conhece-los. Disney infantiliza, domestica, torna tudo inofensivo. Profeta desta época de parques de diversão e visuais chocantes. Nota 3.
BELEZAS EM REVISTA de Lloyd Bacon com James Cagney, Ruby Keeler e Joan Blondell
Musical anos 30 com coreografia de Berkeley. É incacreditávelmente brega e deliciosamente bobo. Como sempre, tudo gira em torno da montagem de um show. Tem uma coreografia aquática inacreditável : dá pra perceber o medo de miss Keeler. Impressiona a objetividade do cinema de então, não se perde tempo com nada, as coisas são curtas e diretas, se é pra acontecer, que aconteça já. Isto é a TV de 1933 !!!! Nota 7.
A RELIGIOSA de Jacques Rivette com Anna Karina
Baseado em Diderot. Hiper pretensioso, eis aqui tudo de ruim que o cinema francês e a nouvelle-vague em especial, pode ser : chato. Chega a ser inacreditável sua cara de pau. Nota 1.
TERREMOTO de Mark Robson com Charlton Heston, Ava Gardner e George Kennedy
Filme do tempo em que acidentes eram moda no cinema. Sua primeira hora é boa, Robson sabe levar uma história, mas quando começa o terremoto enjoa tanto acidente e tanta tragédia. 4.
A ÚLTIMA TENTAÇÃO DE CRISTO de Martin Scorsese com Willem Dafoe, Harvey Keitel e Barbara Hershey
Baseado em Nikos Kazantzakis. Com o mesmo roteirista de Taxi Driver ( Paul Schrader ), Martin vê Jesus como um Trevis Bickle palestino. Jesus começa o filme como Van Gogh, um esquizofrênico, e termina como Cristo, ser que funda nosso mundo. Sua morte é momento de cinema corajoso e de soberbo talento. Scorsese consegue demonstrar que apenas a morte na cruz faz de Jesus, Cristo. Ele não poderia morrer como homem, seu sacrifício ( e o filme é genial como exposição do que seja ser herói ) é o motivo de sua existência. O herói é herói ao morrer, não em vida. Isso é demonstrado de forma engenhosa. Mas o filme tem uma cena muito ruim : a salvação da prostituta. Parece que veremos o Monty Python cantar. Uma cena genial : a ressurreição de Lázaro. Aterradora e crível. O filme nada tem de fácil, Judas ( Keitel, muito bem ) é visto como figura tão importante como Jesus e os outros apóstolos são pouco mais que broncos. Trata-se de filme cheio de ira, de brilho e de muita dor; sentimos que Scorsese se penitencia. O filme mostra toda a revolucionária novidade de Jesus : um Deus de amor. Até então todo deus era baseado em força e poder, Jesus coloca o amor no centro do mundo, o amor como razão para se viver. Ele inaugura-nos. Nota 8.
THE PLEASURE GARDEN de Alfred Hitchcock
É o primeiro filme do mestre. Vale só por isso, pois é um comum filme pop inglês da época. Não se trata de suspense. Nota 4.
SUPLÍCIO DE UMA ALMA de Fritz Lang com Dana Andrews e Joan Fontaine
Último filme americano de Lang. Uma vergonha ! Mal enquadrado, atores sem direção, roteiro cheio de furos. O grande Lang sem nenhum tesão. Nota Zero !
CONSPIRAÇÃO DO SILÊNCIO de John Sturges com Spencer Tracy, Robert Ryan, Lee Marvin e Ernest Borgnine
Homem chega a cidadezinha. Todos o recebem com rancor. Todos escondem um terrível segredo. O filme tem fotografia deslumbrante. Ele é seco, árido, másculo. O clima de hostilidade se mantém por todo o filme e o roteiro é redondo, engenhoso, direto. Nada de forçado, nada de inverossímil, nada de pedante. É um belo filme com Spencer dando aula de discrição. Nota 7.
SEU TIPO DE MULHER de John Farrow com Robert Mitchum e Jane Russell
O filme tem uma primeira parte perfeita : um bando de esquisitos num hotel de luxo mexicano. Há um clima Hawks/ Huston e Mitchum carrega o filme com ironia. Mas aí acontece uma loucura : surge Vincent Price, e tudo muda, agora é uma gozação, uma sátira, um carnaval. Entendemos então que o filme mudou de diretor, que o produtor é Howard Hughes e que Farrow brigou com ele. Toda a parte final se parece com bebedeira, o filme cambaleia, fica à deriva. Não deixa de ser fascinante com as cenas dentro do barco tão ousadas, modernas, tortuosas. É um filme invulgar. Nota 6.
OS GÊNIOS DA PELOTA de Norman Z. MacLeod
É com Groucho, Chico e Harpo. Quem não gosta deles ( óh pobre infeliz ) vai detestar este filme. Tudo aqui é anárquico, solto, sem porque. Quem gosta deles ( óh gente feliz ) vai embarcar na viagem rumo ao mundo sem sentido dos geniais Marx. Nota 7.