VINCENTE MINELLI/ GUERRA AO TERROR/ MAX OPHULS/ GEORGE CLOONEY

GUERRA AO TERROR de Kathryn Bigelow com Jeremy Renner
Estéticamente é um filme miserável. Usa e abusa de câmera tremida e é todo closes. Feito para tela pequena, para o nosso mundo de dvd. Mas mesmo assim é um excelente filme. Howard Hawks disse que para se fazer um grande filme bastam duas grandes cenas e nenhuma cena ruim. Este filme tem duas grandes cenas, mas tem uma muito ruim. O tiroteio no deserto é sua melhor cena. E o iraquiano amarrado em bombas é a outra. De péssima, a cena dos socos. Está longe de ser um filme profundo. O fato de merecer, sim, o Oscar de melhor filme, mostra onde estamos. Ele é superficialmente excelente. Ficamos absorvidos, vendo todo aquele som e fúria sem significado. Mas como em Tarantino, assistimos a talento puro sem assunto. Um adendo : Assim como nos anos 50 o tema válido era a normalidade ( o que é normal, o que é doentio ) e nos 60 era a busca por sí-mesmo ( quem eu sou e o que posso ser ), hoje o único tema relevante é a violência. Falar da violência é tocar no centro de nossa vida. Todos os outros temas são pouco urgentes. Para quem quiser saber, o grande tema dos 70 foi a paranóia, dos 80 foi o poder e nos 90 a dispersão da vida. Guerra ao Terror é retrato perfeito nosso : a guerra como guerra, sem heroísmo, sem vilões, sem política, sem porquê. Apenas um modo de se viver. De se viver intensamente. Como a droga. Nota 8.
NA TEIA DO DESTINO de Max Ophuls com Joan Bennet e James Mason
Para quem não sabe : Ophuls foi um diretor austríaco que emigrou para a Amércia durante a segunda guerra. Seu estilo é fluido, sensual, estético. Não foi feliz nos EUA e voltou para a Europa nos anos 50 onde também teve problemas com produtores. Tipo de diretor que poderia e deveria ter feito muito mais. Aqui, em clima noir, conta-se a história de mãe que protege a filha de chantagista que viu ela matar seu ex-namorado. Mason é um dos chantagistas que se apaixona pela mãe e paga por isso. O filme é simples, envolvente, bonito e magníficamente bem interpretado. James Mason, inglês com carreira nos dois continentes, era perfeito para esse tipo de papel, o de homem fragilizado. Um filme que representa outra era, o tempo dos filmes objetivos, curtos, diretos e profissionais. Nota 7.
A ÁRVORE DOS ENFORCADOS de Delmer Daves com Gary Cooper, Karl Malden e Maria Schell
Médico chega a cidade mineira. Começa a clinicar e se envolve com moça vítima de assalto. Ele é um homem estranho, bondoso e muito cruel ao mesmo tempo. Eis básicamente a sinopse do filme. Mas ele é bem mais. Coisas acontecem sem parar e tanto quanto o papel de Cooper, todo o filme parece meio doentio, torto, quase neurótico. Malden tem maravilhoso papel, um mineiro mentiroso que tenta violentar a moça. Gary Cooper é Gary Cooper, o maior ladrão de cenas de Hollywood, ficamos olhando pra ele sempre à espera do que ele vai fazer. O protótipo do que é ser astro. Daves foi com Mann e Boeticher, um dos últimos grandes diretores de westerns. 7.
O DIABO FEITO MULHER de Fritz Lang com Marlene Dietrich e Mel Ferrer
Ruim. Lang faz aqui um western todo errado. Se parece com uma sátira que não deu certo. Tenta ser leve e esperto, é apenas desagradável. Lang quando acerta é genial, mas quando erra é odiável. Este é puro ódio. Nota zero.
AMOR NA TARDE de Eric Rhomer
Quem não gosta de Rhomer acha que todos os seus filmes são iguais. Não são. Alguns são encantadores. Outros são menos que nada. Neste tudo é nada. Porque ? Muito simples. Como em Rhomer nada é artifício, tudo depende de nosso afeto pelos personagens. Aqui não se cria esse afeto. Olhamos aqueles caras falando e não queremos saber quem eles são ou o que têm a dizer. O filme naufraga. Nota 1.
AMOR SEM ESCALAS de Jason Reitman com George Clooney
Comentei este filme? Acho que só falei dele por alto. Bem... é o mais vazio dos filmes. Os personagens fazem coisas, mas o roteiro é incapaz de nos dizer quem eles são. Quando o filme se encerra continuamos não tendo a mínima idéia do que aconteceu. Porque na verdade nada aconteceu. Todos os personagens não têm razão de ser. E nem a irrazão do niilismo eles possuem. A menina deixa de ser dura e profissional sem qualquer explicação. Clooney se derrete porque ? Nada nos convence de nada. Para aceitar o que acontece precisamos desligar todo senso crítico, o que é lamentável. Pois o tema, se melhor escrito e dirigido com mais fibra, renderia um ótimo filme. Como está ele é xoxo, superficial e falso. Aliás, sua única verdade é seu conservadorismo. Sua mensagem explícita é : a família é o paraíso. Fora dela a vida não tem razão. É uma mensagem tão antiga que chega a ser vitoriana. É pré-Freud. Reitman, que produziu o filme com seu papai, Ivan Reitman, é o rei do cinema para meninos. Filmes fofos e sensíveis, isentos de qualquer raiva ou violência. Ah... e tem a trilha sonora ! Músicas de violão de vozes chorosas. São tão meladas que o CROSBY, STILLS E NASH perto delas é punk puro. Um horror !!!!! Mas há algo de bom neste melô, é George Clooney. Esse ator que destoa dos outros ( não tem músculos e tem cabelos brancos, sabe se vestir e fala com clareza ) aperfeiçoa aqui seu modo Cary Grant de atuar. Consegue passar alguma vida real neste filme tão castrado. No final chega a ser comovente sua vontade de dar profundidade a roteiro tosco. Ele é o filme. PS ; o filme me fez perceber que não estou fora deste mundo. O personagem de Clooney retrata superficialmente a minha condição espiritual : no ar. Uma pena este tema ter caído em mãos tão puerís..... nota 5 ( por Clooney, apenas )
ASSIM ESTAVA ESCRITO de Vincente Minelli com Kirk Douglas, Lana Turner, Gloria Grahame e Dick Powell
Voce quer saber o que é um roteiro perfeito ? Veja este filme. Uma mistura deliciosa de emoção e fantasia descabelada, de bons diálogos e ação corrida, drama e charme sem pudor. E com bons atores e um diretor esbanjando gosto. Que mais voce quer ? A história : Kirk é filho de falido produtor de cinema. O filme conta como ele reergueu essa companhia usando pessoas e roubando idéias. Quando o filme começa ( ele é em flash-back ) ele já faliu novamente e o que vemos são 3 de seus ex-colaboradores rememorando sua vida. Um diretor, uma atriz e um escritor. O filme cita deliciosamente a vida real. Lana Turner tem fixação pelo pai, estrela alcoólatra. É óbvio que esse pai é John Barrymore. Há ainda personagens que lembram William Wyler, King Vidor, Ava Gardner, Ramon Novarro, Billy Wilder e vasto etc. Tudo combinado de modo tão hábil que chega a nos causar um perene sorriso de prazer e cumplicidade. Kirk faz o tipo de papel em que é insuperável, o canalha. E Lana faz a alcoólatra ninfo em que se esmerou. Aliás o filme brinca com pólvora, tanto Lana como Gloria não eram fáceis. Lana, hiper estrela da Metro, envolveu-se em escândalo. Sua filha namorou o gangster de quem ela própria era amante. Tudo terminou em assassinato ( a filha matou o amante da mãe ) e Gloria era casada com o homossexual Nicholas Ray, amante de James Dean ( ele, não ela ). Gloria se separou de Ray e descobriu-se que ela tinha dúzias de casos, com homens e mulheres e até com um filho adotivo. Que elenco !!!!! O próprio Minelli era casado com Judy Garland, que morria de solidão, pois Minelli era outro caso de gay tentando mudar de vida e não conseguindo. Ela mergulharia nos remédios e ele continuaria colecionando porcelana. E fazendo filmes tão geniais como este e mais UM AMERICANO EM PARIS, O PIRATA, A RODA DA FORTUNA e mais alguns etcs... Assista este filme malicioso, fantasioso, adorável e divertidíssimo. Aprenda como se faz um filme sólido. Nota 8.