SERVIDÃO HUMANA - W. SOMERSET MAUGHAM

O assunto de Maugham é sempre o do homem tentando nascer. A busca pela liberdade, pelo conhecimento e pela paz. E a trajetória é sempre nessa ordem : escapar do meio, encontrar um sentido, obter o equilíbrio. Escrevendo sobre isso, o inglês Maugham se tornou um dos dois ou três mais populares escritores do século XX. Ele é o melhor autor classe B de seu tempo. ( Tempo de belos autores B : Simenon, Agatha Christie, Conan Doyle, Saint-Exupery, Chandler, Henry Miller... ).
Philip é um inglês tímido e com um pé torto. É adotado por pastor e sofre bastante na escola. Larga os estudos e vai à Paris, estudar pintura. Se apaixona por moça muito vulgar. O livro não segue o rumo esperado. Philip não tem talento e a moça o despreza. Lemos sobre a dor de amar e ser enganado. Burramente ele despreza quem o ama de verdade e segue, de forma humilhante, o rastro dessa moça infame.
Derrotado, ele volta e se torna médico. O livro tem seu momento de luz ( onde Maugham faz uma vulgarização da iluminação de Lievin em ANA KARENINA ). É quando Philip vê que a vida é completamente destituída de sentido. Nascer, trabalhar e morrer. Isso é tudo. Os mais fracos se agarram com desespero num sentido que é dado por sua própria imaginação. Vista friamente, não há mérito em se viver de modo X ou Y. Tudo dá na mesma.
Ao pensar isso a vida de Philip muda. Ele se torna livre. Ser bem sucedido ou não, ser feliz ou não, tanto faz. O resultado é idêntico : nenhum. Ele não é mais obrigado a nada. Não deve mais à vida ser feliz ou ser um vencedor.
É lógico que Maugham banaliza uma filosofia tão preciosa. Mas é um prazer ver um autor tão best-seller, que vendia tanto, lido por meninos, donas de casa e estudantes, advogar o pessimismo vitalista e não, como hoje, prometer sentidos mágicos à existência. Um anti-Paulo Coelho.
Mais profunda é a descoberta por Philip de que a arte é uma parte muito pequena da vida. Que a vida está pouco se importando com novidades, belezas e refinamentos. A fome e a dor é que importam. O maior interesse é sobreviver.
Ao fim, o sentido que Philip encontra é o conforto. A paz possível, a de se ter um trabalho útil, uma esposa amiga e saudável e um canto iluminado para se morar. O céu de Philip está a beira-mar, médico de pescadores, nos braços de uma jovem loura bonitinha. Como não há sentido nesse acidente chamado vida, cabe a nós fazer da vida algo de livre e digno.
O livro diz que nada é mais nobre que abrir mão de alguma coisa para o bem de outro. É o que Philip aprende. Duramente e árduamente. E fim.