CATOLICISMO

Se eu acreditasse em Deus eu seria católico. Explico.
È claro que não gosto do passado intolerante da igreja. A hipocrisia, inquisição etc. Mas quero falar de hoje, de agora, e penso que não há melhor antídoto para as loucuras do tempo presente que uma dose de catolicismo na veia.
Americanos odeiam católicos. Católicos não acreditam em escolha. E o poder escolher é a base da religião americana. Um americano crê que ele pode ser o que deseja. Pode seguir qualquer seita cristã, pode fazer de sí o que sua vontade conseguir. A tradição religiosa da Europa é oposta a isso. Sua família tem uma religião e voce faz parte dela. Se voce rompe com isso, um preço é pago. Americanos odeiam pensar em preço. É esse modo de pensar ( somos aquilo que queremos) que faz com que a psicanálise seja tão mal entendida nos EUA .
Mas não pense que este é um texto anti-USA. Comunas pensam em religião como ópio. Uma tolice. Religião não é ópio, não é só política, ela é parte do ser-homem, do existir. Negando ou aceitando, todos fazemos parte de uma sociedade religiosa.
Na Alemanha, na Inglaterra, na Suiça e na América, desde sempre é de bom-tom detestar padres. Pessoas cultas sabem que em conventos e em seminários impera o sexo. Para esses sábios nórdicos, sexo é sempre uma doença. Lí a pouco que nos EUA sexo continua a ser uma perversão. Não é parte da vida, é show de taras, de neuroses, de sofrimento ( vide Madonna e agora os rappers e Gagas... sexo como loja pornô ). Católicos são mais sensuais porque para eles sexo é tentação do mal, um delicioso pecado. "Estou gosando! Perdoai-me !!!! " contra " Fuck me !!! I'm sick !!!!"
Perseguem-se católicos. Só judeus são mais perseguidos. Padres são pedófilos ( como se professores, médicos e técnicos esportivos não fossem ), Roma é mentirosa ( tudo que envolve política é ), toda freira é lésbica, todo padre é gay. Para o mundo não católico, preso no supermercado do goso imediato e do tudo-posso, abrir mão de sexo é não só mentira, é impossível. Será ?
Tendemos a hiper-valorizar nossos remédios. A adorar aquilo que nos consola. Para o sem sentido mundo moderno, sexo é viver. Quem ouse negar isso é falso, ou pior, só pode ser pervertido. É inadmissível que alguém abra mão daquilo que te parece tudo.
Católicos também incomodam pela mania de falar em morte, ressurreição, pecado, proibições. Para o mundo século XXI tudo pode, desde que seja sua verdade sincera. Ser voce mesmo, não se deixar doutrinar, isso é ser livre. Livre do que e para que ? Não interessa. O pensamento infantil mágico, o pensamento de que se eu quiser eu tenho, é o pensamento mais anti-católico possível. No catolicismo, Deus é juiz, ele decide e escolhe, somos peças de um tabuleiro.
Admiro muito quem nasce católico e se mantém firme em sua fé. As seduções fáceis são muitas. Crer em "preço a pagar", pedir perdão a Deus, saber que não somos donos da vida e da verdade.... me parece um modo de pensar e viver muito são para tempos doentes. Além do que há algo de familiar, de confortável em tudo isso.
Respeitar pai, não roubar ou matar, não dar falso testemunho, não cobiçar a mulher do próximo.... o mundo precisa desses "nãos" para funcionar, o homem precisa desse pai para ser feliz.
Volto a dizer, se eu acreditasse em Deus não teria dúvida em ser católico.
Nascí católico. Vejo a vida como um católico a vê ( a saga de um Cristo expiando culpas ) sinto o amor como um católico ( a mulher como santa/puta, o amor como sofrer no paraíso ) faço as perguntas católicas ( o que é certo ? como perdoar ? como encontrar a luz ? ) mas me falta a fé, e sem fé me falta tudo.
Jamais faria como certos seres, que envergonhados de crer num Deus tão "vulgar", pegam sua fé e a jogam no supermercado de igrejas, achando que basta querer para se tornar budista, umbandista, kardecista ou sufista. Passam a vida usando religiões como remédio, budismo para nervosismo, kardecismo´para o medo de morrer, outra para ganhar dinheiro.
Voce nasce numa religião e mesmo a negando será sempre um ex-católico ou um ex-judeu.
Uma bela religião essa de São Pedro, incompreendida, usada para fins errados, aviltada e odiada por todos que se sentem culpados, mas é a raiz do mundo latino.
Sou um ex- católico. Não odeio ou combato católicos. Não caio nessa lei de mercado.
Mas lí Nietzsche, Voltaire, Darwin....