O MORRO DOS VENTOS UIVANTES - EMILY BRONTE, O MELHOR ROMANCE DESTES MUNDOS

Pedra.
Por detrás de todo rosto empedrado existe a chaga podre. Conhecer o céu e vê-lo ser fechado para sua vida. A porta de madeira batida contra seu rosto. O fim. Ter de olhar para baixo e caminhar, sem vontade, rumo ao inferno. Tecer armadura de ferro pesado e criar cara de pedra. Sua voz será desdém pelos fracos. Eis o único caminho. A pedra.
Porque tudo acaba. Tentamos nos enganar, mas tudo se vai. A alma de quem mais lhe era preciosa se fecha em abismo. Anda e se vai sem olhar. Suas lágrimas endurecem e criam um rastro rochoso. Rindo entre pessoas voce sabe : sua vida está encerrada. Na rocha.
O ódio ao mundo. Voce vê o destino de tudo que agora brilha. Esquecimento. Sabe que todas as coisas serão vazio. Imemória da vida. Mas a sua maldição, a pior ? , é a de jamais poder se esquecer. Só existe um amor para cada coração. Todos os outros são atos desesperados. A tentativa de reanimar um ser partido. A ilusão de se ver aquilo que se fez invisível.
Quem tem a coragem de mergulhar no abismo ?
O MORRO DOS VENTOS UIVANTES é a história de todo coração partido. E de toda coragem irascível. Lido aos 15 anos, na minha era da lama e da névoa. Relido sempre. CATHERINE...HEATHCLIFF....eu sou Heathcliff.... eu sou pedra.
Criar seu próprio universo em sua solidão. É preciso pedra para edificar paredes que resistam ao tempo. Senhor de um globo feito de neblina e sol pálido. Tudo é lama e saudade. Tudo é raiva e vingança.
Porque fui rei da felicidade e hoje sou blasfemador do destino. E o que vejo são partidas, mortes, adeus, brisa tornada muro. Ter de rir do amor, voce que vivia só para ele.
Saiba : detrás de toda face irascível há uma criança desiludida. Erguer o queixo para não cair no vazio. Aprender a ser um destino.
Uma geração atrás. Apenas uma. Eu andava na idade média. Sombras de fogueira na parede, pés nús sobre a neve, candeeiros e bruxarias. Essa riquesa não tem preço. Eu ví a treva da alvorada morta e conhecí a fé no além. Meu pai veio da carroça de burrico e meu avô da pedra cortada a mão. Minha avó bradava maldições e minha mãe sabe o preço de se esbarrar com tifo, desnutrição e nudez na neve de janeiro. Meu sangue conhece a viuvez de toda uma vida, a honra ferida que se paga com a morte, a promessa que tem de ser seguida.
Sou velho como o vazio. Esse é meu ouro e minha cara de pedra.
Mas tenho, sendo um burrico e um lobo, de viver em mundo de aço, asfalto, velocidade e finais. De onde venho TUDO É PRA SEMPRE. Assim me ensinaram. Mas aqui e agora, nada é para sempre. NADA SEMPRE. Maldição de Heathcliff, o mundo que herdei me é odioso.
A casa de pedra me espera no alto do monte. O norte de Portugal ou o norte da Irlanda. Onde nada se dá e onde damos tudo de nós. Onde a alma de Catherine me espera. Para sempre me espera e para sempre lá estarei. Pois toda esta vida é espera...
Jogarei tudo ao fogo e destruirei esta cara de pedra. Quebrarei a janela e me jogarei para ela...
O MORRO DOS VENTOS UIVANTES é sobre a alma.