MURPHY ANDERSON, JOE KUBERT, GIL KANE, FRANK GIACOIA, CARY BATES, JULIUS SCHWARTZ, SAL BUSCEMA, JIM STERANKO... nos meus 12 e 13 anos eu tive apenas um único objetivo : comprar revistas da EBAL.
A Editora Brasil América. Ela lançava os heróis da National e da Marvel no Brasil. Toda segunda-feira era meu dia feliz. O dia de ir às sete da manhã na banca do "Negrito" para comprar três revistas. HOMEM-ARANHA, SUPERMAN, BATMAN, TARZAN, DEMOLIDOR, CAPITÃO AMÉRICA, KORAK, THOR, QUARTETO FANTÁSTICO... e da editora RGE eu pegava O FANTASMA e MANDRAKE.
Chegava em casa e sentia o cheiro doce de papel recém impresso, de tinta. Lia. O coração aos pulos. Eu realmente amava aquelas revistas. Quando erguia os olhos e via na prateleira da banca uma nova capa colorida, sentia um júbilo que raras vezes sentí novamente. Após ler essa nova revista eu a guardava em meu quarto e ia pra escola. De noite, na sala, eu iria lê-la mais uma vez e passaria dias admirando cada quadrinho e sua capa festiva. Era uma paixão.
Elas fizeram minha bronquite de toda noite desaparecer. Revelaram um mundo maior, um mundo de criação, de dor e de superação. Me sentia Peter Parker, mas também me sentia Matt Murdock e Steve Rogers. E amava, febrilmente, Sharon Carter, Karen Page, Gwen Stacy e acima de todas Mary Jane Watson. Ficava olhando seus rostos e tentando imaginar como seria o timbre de suas vozes.
Tudo começou com um amigo meu ( Juscelino ) que tinha uma pilha de HQs da EBAL e que trocou sua pilha pelas minhas revistas da Monica e do Mickey. De repente eu tinha umas cem revistas para ler. Lí tudo em quatro dias e fiquei viciado. Bendito Juscelino !!!!
Aos 14 anos, veio uma tempestade e eu troquei a paixão pelo Superman pela paixão pelo Led Zeppelin e descobri que amar uma menina de carne e osso doía mais. As revistas foram guardadas, eu ainda comprei bastante durante um tempo, mas já não vivia para elas.
O tempo as levou, vieram livros, veio gente, veio ferida e outros amores. Mas eu nunca gostei de nada de um modo tão "bobo", puro, febril e exaltado. Conseguia entrar nos desenhos, viver dentro deles, sonhar com tudo aquilo.
Às vezes penso que aquele menino ainda está indo à banca do Negrito.