O UNICÓRNIO - IRIS MURDOCH

Iris Murdoch foi tema de um belo e tristíssimo filme. Com Kate Winslet como a jovem Iris e Judi Dench como a Iris com alzheimer. Embora não tão conhecida no Brasil, ela foi central nas letras em inglês do quarto final do século XX. Filósofa acima de tudo. E escritora de ficção.
Aqui ela nos conta uma história que é muito fantástica, misteriosa, simbólica, sobrenatural até. Mas onde nada de fantástico acontece. Fala de uma moça que vai trabalhar num castelo inglês. Lá, em meio a pântano, vive uma mulher que jamais sai de seus domínios. Com ela vivem empregados e parentes, conhecidos e agregados. Ela percebe algo de estranho em tudo e logo vê que a mulher, dona do lugar, não pode ou não ousa querer sair do lugar. Está confinada.
O livro é terrível. Tem autêntico clima de pesadelo. Todos são passivos. Menos Gerald, o guardião da prisioneira. Passamos pelos capítulos com apreensão e bastante incomodados. Há algo de muito odioso naquilo que nos é mostrado. E então, ao lembrar que Murdoch foi filósofa, começamos a montar uma charada ( montada ao mesmo tempo pelos personagens que a vivem ). A mulher é o Unicórnio e ele simboliza Deus. Ela é o ser que nunca poderá mudar e que é amado, mas jamais entendido. Gerald é o próprio anjo do mal, aquele que é temido, que domina a todos e que faz o que quer. Vemos os personagens, apaixonados pela prisioneira, passivamente impotentes, incapazes de salvá-la. Pois o livro nos joga esse pensamento : Deus não pode existir sem nosso amor e nosso amor precisa ser ativo. Nós é que devemos o salvar e não o contrário.
Esse tema nas mãos de autor mais dotado seria obra-prima inesquecível. Mas Murdoch tem idéias de gênio, mas estilo pobre. O livro é escrito como simples romance impessoal. Personagens que não nos tocam, ou pior, não respiram verdade. Não há prazer em sua leitura. Admiramos Murdoch, mas não a amamos.
Amo alguém como Henry James por isso : de um nada de enredo ele tira 500 páginas de complexo prazer. Iris Murdoch com um tema rico e profundo nos dá enfado e decepção.
Estilo é tudo. Não importa o que voce escreve. O que importa é como voce escreve. Iris escreve banal. O Unicórnio é pura frustração.