INTRIGA INTERNACIONAL - HITCHCOCK, O MELHOR ?

Saiu mais um DVD de INTRIGA INTERNACIONAL. Este vem com dois discos. O filme no disco 1 e no 2 tem quatro horas de extras ! Só o documentário sobre Cary Grant já vale o investimento, mas ainda temos um farto material sobre Hitch com depoimentos de fãs como Scorsese, Guillermo del Toro e Curtis Hanson. Para um fã desse filme como eu sou, é um super prazer. Mas vamos ao filme.
Passei por toda a minha adolescência evitando Hitch. Por dois motivos : Primeiro eu o achava muito Pop. Como fã de Fellini e Truffaut, eu achava que Hitch não tocava em grandes temas. O incrível era eu desconhecer ser Truffaut um fã do inglês. O segundo motivo era OS PÁSSAROS. Eu o vira quando criança e sentira muuuuuito medo. Beeem ...
Até que um dia, num entediante sábado, assisti este INTRIGA INTERNACIONAL na antiga TV Manchete. Nem me lembro o porque de finalmente encarar o mestre, mas ví o filme completamente estarrecido. Eu descobria um segredo : o grande cineasta não era aquele que falava de "grandes temas", mas sim aquele que fazia grandes filmes. Hitchcock ainda é referência por isso : ele diverte quem procura diversão e intriga aquele que vê o cinema como arte. Seu domínio é absoluto. Ele esbanja talento, se exibe, faz brincadeiras, nos pega pela mão e leva onde quer. Não tem concorrentes na arte de iludir, de "filmar leve", no modo como as cenas fluem, constantes, absolutas, certeiramente exatas.
Grant é um executivo bem-sucedido. É confundido com agente-secreto e corre meio USA fugindo dos seus novos inimigos. O filme é todo absurdo : nada faz muito sentido e tudo é inverossímel. Mas... quem se importa ? Hitchcock jamais procura o realismo. Os seus filmes sempre são cinema, ilusão, e nos envolvem. Não questionamos, sentimos. Sua maestria já está inteira nos primeiros 3 minutos de filme : vemos Cary Grant e percebemos sem pensar que já conhecemos seu personagem. Hitch apresenta situações sem discursos, sem apelações, tudo nos é dado naturalmente. Quando notamos já nos apaixonamos pelos personagens e estamos presos ao filme. E quanta ação ele tem ! Mas é ação sempre suave, elegantemente encenada. Tiros, trens, carros, um bandido que exala charme ( James Mason ), uma sedutora agente ( Eva Marie Saint ), leilão, fugas, e muita comédia, comédia inesperada, comédia feita por esse enigma do humor e do bom-viver chamado Cary Grant.
A sequencia do milharal, quase muda, é, provávelmente, a mais perfeita aula de edição e clima já dada por qualquer diretor. Mas todo o filme é uma aula. As posições que a câmera assume, o rodopiar de rostos e lugares, os sets milimétricamente planejados. E ainda há a partitura de Bernard Herrman, mais uma obra-prima desse maestro dos maestros.
INTRIGA INTERNACIONAL foi, nesses seus 50 anos, muitíssimo imitado. Todos os thrillers de espionagem ( incluindo tudo de Bond ) beberam em suas imagens. E mesmo assim ele ainda intriga, absorve, diverte e ensina. De seu primeiro segundo a seu último frame, tudo é absoluta perfeição : nada em excesso, nem um só diálogo sem sentido, cada tomada precisa e criativa, surpresa sobre surpresa, prazer às toneladas. Revendo-o hoje, pela quinta vez, percebo que ele é indestrutível e me vejo pensando se seria este o melhor filme de Hitchcock.
Apesar de existirem nomes como Wilder, Ford, Hawks, Kurosawa, Bunuel, Bergman, nenhum deles tem a quantidade de obras-primas como Hitch e nenhum chega perto da facilidade que ele aparenta ter ao filmar. E o principal, nenhum se comunica tão instantaneamente com todo tipo de público. INTRIGA INTERNACIONAL é obrigatório.