Leio que em vinte anos ( apenas ) os tigres terão sumido das florestas. Teus filhos só conhecerão os tristes tigres nascidos no zoo. Trocamos a magnífica presença sagrada do mais belo dos animais por casacos, tapetes e afrodisíacos. Uma espécie que faz isso não pode ser grande coisa. ( E também trocamos a Amazonia por um bife ).
Mudando de assunto.
Como jamais iremos construir novamente um Coliseu ou uma catedral de Notre-Dame, toda a beleza que se pode encontrar hoje está na destruição/construção das coisas. Não procure mais beleza/transcendente ou a eternidade do espírito humano. O interesse está na obra em construção e depois em sua demolição. Nossa vida é assim.
O edifício, vulgar como é nossa arquitetura, tem como interesse único seu projeto. Sua demolição também é relevante. Sua existência é ínfima. Esta é a era do erguimento e da destruição imediata.
Procure a beleza nos escombros e no resto. Procure o amor no "talvez" e no "terminou". A realidade do dia a dia não importa mais.
Na arte nada mais pode estar terminado/polido/finalizado. É necessário o aspecto de "em construção", inacabado ou decadentemente abandonado. Tudo deve ser "quase" : quase pronto e quase extinto.
A música não interessa se não for destrutivamante anti-harmônica. Esta época não cabe em qualquer harmonia. A melodia deve ser um constante começo inacabado. O fim é como um tropeço. A música tem de ser parte do ruído ambiente.
A nobre tranquilidade do tigre não cabe neste mundo. Seu olhar não comporta esta amarga confusão. No mundo da utilidade ele é engolido por ser útil quando morto. Seu fantasma nos irá assombrar. O espetáculo da vida se traduz em demolição.