MOLIERE de Laurent Tirard com Romain Duris, Fabrice Luchini, Laura Morante e Ludivine Sagnier
Houve tempo em que filmes europeus eram lançados toda semana no Brasil. Romy Schneider era mais famosa que Jane Fonda e Catherine Deneuve que Barbra Streisand. Mais que Jack Nicholson, Dustin Hoffman ou Clint Eastwood, as pessoas amavam Yves Montand, Jean-Paul Belmondo, e principamente Mastroianni. Alain Delon era tão famoso quanto é hoje Brad Pitt ( Delon era mais bonito ) e o mais amado diretor era Fellini. Nos anos 80, com os filmes tipo Rambo/ Robocop/ Duro de Matar, a América se tornou a única fornecedora de filmes pop. Rompeu-se a ligação, e hoje, estrelas européias com menos de 40 anos... quem ?
Romain Duris é o maior ator/estrela da França hoje, e penso que muito pouca gente o conhece fora de seu país. Ele faz Moliere neste filme, e o faz muito bem. Seu Moliere é o Moliere que imaginamos, se parece com alguém que escreve, atua e possui gênio. O filme, belo e alegre, é delicioso. Mas é esse estupendo Fabrice Luchini, diabólicamente engraçado, fazendo um nobre cornudo com raro talento, que nos impressiona. Torcemos para mais cenas com ele, são hilárias. O filme é cheio de frases elegantes ( tem ótimos diálogos ) e se passa em palácios suntuosos ( que nos fazem ter consciência da triste condição de nossa arquitetura ), o filme é um prazer para a vista. Na França ainda se fazem filmes para o povão em que não há um só tiro, nada é digital e nada se passa num mundo de sonhos. São bons atores, bons diálogos e uma boa história. Aliás, às vezes é um alívio ver atores europeus : você já notou que eles têm rosto de "gente" ? Nota 7.
NAKED CITY de Jules Dassin
Um narrador conta o que vamos ver : um dia na vida de Nova Iorque. As imagens das ruas e dos bares, metrô, barbearias são sensacionais. Na verdade o filme é quase um documentário. Depois vem uma boa trama policial, toda filmada em locais autênticos. São as lições do Neo-realismo colocadas em prática por esse excelente Jules Dassin. O filme é elétrico, rápido, viril, magistral. nota 8.
O RETRATO DE DORIAN GRAY de Albert Lewin com George Sanders, Donna Reed, Angela Lansbury e Hurd Hatfield
O doido diretor do maravilhoso PANDORA, filmou antes este hiper enfeitado Dorian Gray. È irritante ver Sanders vomitar epigramas de Wilde colocados a torto e a direito na história. O filme é enjoativo como glacê branco. nota 3.
A GUERRA DO FOGO de Jean-Jacques Annaud
Após ganhar o Oscar em seu filme de estréia, Annaud passou anos para conseguir fazer este filme. Usando o trabalho do autor de Laranja Mecânica ( Anthony Burgess ) que criou uma língua ancestral, Annaud filma uma aventura passada no início da nossa história, no nascimento da civilização como a conhecemos, na hora da descoberta e da valorização do fogo. O filme é bela aventura, bastante plausível, sério, e com tema tão difícil, consegue se sair muito bem. Mas é isento da poesia maravilhosa que 2001 tem em seu início. Os temas dos dois filmes são complementares, mas Kubrick fez coisa de gênio e Annaud é bom diretor, não um criador original. Mas este filme é ok. nota 7.
PEFÍDIA de William Wyler com Bette Davis e Herbert Marshall.
Baseado em peça de Lilian Hellman, o filme foi feito no tempo em que Lilian era a heroína da esquerda americana. O filme nos mostra como os ricos são maus e não se cansa de acumular maldade sobre maldade. Wyler, um dos gigantes, dirige tão bem que nem tomamos consciência de seu trabalho. Não há um só erro, uma só tomada a mais, uma cena longa demais ou feita às pressas. Wyler trabalha para nosso prazer e para o brilho de texto e atores. Ambos brilham. Bette dá seu show costumeiro. Ela exala maldade. Você é hipnotizado. nota 8.
A IMPERATRIZ VERMELHA de Joseph Von Sternberg com Marlene Dietrich
Entre 1930/1937, Sternberg fez uma série de filmes com sua musa, Dietrich, e a transformou em super-estrela, rival mais quente de Garbo. Marlene foi crescendo filme a filme, e quando os dois se separaram Sternberg se apagou. Os filmes são todos parecidos : lugar exótico, cenários imensos e barrocos, insinuações fortes de sexo anormal e closes e mais closes de Marlene hiper-glamurosa ( Madonna copia esses closes até hoje ). Este é o pior dos que ví. Sternberg enlouquece e perde o senso do ridículo. Nesta história passada na Rússia de Catarina, o palácio é uma gororoba de caveiras e monstrengos, Marlene dorme com metade do exército e os diálogos são risíveis. É exemplo de cafonice chique, de pesadelo gótico. nota 2.
STAGE DOOR de Gregory La Cava com Kate Hephurn, Ginger Rogers e Lucille Ball.
Comédia dos nos 30 é assim : diálogos apimentados que jogam ironia sobre ironia e nos fazem sentir mais espertos se os entendemos e mais sofisticados se os citarmos. São tão bem escritos que continuam, mais de setenta anos depois, a ser o modelo de tudo o que é cosmopolita, fino e elegante. Aqui vemos uma pensão onde vivem aspirantes a atriz. Ginger é a mais cínica e a líder do grupo, Kate é a bem nascida que quer brincar de ser atriz. Ou seja, Kate e Ginger fazem elas mesmas. Kate está linda. É fantástico como ela, que não era bonita, parece a mais bela das atrizes em vários filmes. Isto é diversão inteligente, atemporal, que só não é genial porque tem duas cenas de drama sério que desandam com o ritmo esperto. nota 8.
SILLY SYMPHONIES
Comentei esta coletânea abaixo, em texto próprio. A nota é DEZ !!!!!!
BASQUIAT de Julian Schnabel com Jeffrey Wright, David Bowie, Gary Oldman e Benicio del Toro
Julian foi artista plástico nos anos 80. Amigo de Basquiat. O filme é mensagem carinhosa e saudosa ao amigo morto. A trilha sonora é cheia de canções fantásticas ( Cale cantando Cohen é de matar ). Triste, pesado, tortuoso, funciona a perfeição, por fazer aquilo que Kael reclamava em outros filmes : fala de um artista tortuoso de forma tortuosa. Como o filme de Dylan, que fala de um artista multi-facetado em filme multi-facetado. Kael falava ( mal ) de "Sociedade dos poetas Mortos", filme que era contra a repressão, mas que fora filmado como o mais conservador dos dramalhões. Assim como ruim é RAY, filme que fala de um cantor que era puro calor, sensualidade e feeling, mas que teve como bio um filme que é frio, pudico e calculado. Basquiat é um filme perdido, desencantado e incompleto... como seu personagem foi. nota 8.
ASSASSINATO EM GOSFORD PARK de Robert Altman com Maggie Smith, Helen Mirren, Clive Owen, Emily Watson
A única pessoa no mundo que poderia ter feito este filme é Altman. O fato de ele não se perder e conseguir fazer fluir uma tão vasta galeria de rostos, vozes e sentimentos, atesta, mais uma vez, sua genialidade. Ele era mestre em "colcha de retalhos", em sinfonia de atores, em modernidade anárquica-total. Este jamais brilha como SHORT CUTS ( afinal, Cuts É o maior filme dos últimos vinte anos ), mas é filme de mestre. Um micro exemplo, da mais ampla ressonância, de tudo que há de mesquinho e torpe nas relações de classe. Gol de placa. nota 9.
SOB O SIGNO DE CAPRICÓRNIO de Hitchcock com Ingrid Bergman e Joseph Cotten
Que bela era Ingrid ! E que desamparo ela passa ! Mas este filme, o único Hitch feito na América que eu nunca vira, foi feito sob as ordens de Selznick, não é puro A.H. Melodrama gótico, foi adorado pela crítica francesa e odiado pela americana. É um filme muito esquisito...nota 5.