Para se entender a Inglaterra é preciso ter sempre em mente seu amor, absurdo, cômico, surreal, pela tradição, pelos rituais e pela disciplina. Foi isso que garantiu a sobrevivência da família real, e é isso que você deve lembrar sempre, ao ver este filme.
Colégios de elite, ou de pretendentes a ser parte da elite. Eles precisam ser austeros, antigos e disciplinadores. Pois não é fácil ascender na sociedade inglesa. Todos querem um dia ser chamados de "Sir" e melhor, "Lord". Você pode ser rico, poderoso, mas só chegará ao degrau mais alto quando seu título chegar. Lembre que o que doeu, para eles, na morte de Lady Di, foi o fato de ela ter morrido ao lado de um milionário plebeu. E imigrante!!!!!!
Para ascender é preciso se ter estudado numa rigorosa escola britânica. E estudar lá, é ser feito soldado aos 7 anos. Isso fez a glória do império.
Tudo na Inglaterra se subjugava/ subjuga a isso. Todo ator, até Michael Caine surgir, precisava falar como um locutor da BBC, e mesmo as bandas de rock antigas tinham roupas e sotaque eduardiano. ( A excessão eram os Stones. Falavam com falso sotaque americano. ) Com a imigração as coisas mudaram, pouco, pois toda banda inglesa ainda afeta ares de "arte", de ironia nobre, de afetação sangue azul. Balançam o rabo para a rainha.
No festival de Cannes ( aliás ninguém rí mais dessa pose inglesa que os republicanos franceses ), em 1968, IF de Lindsay Anderson ganhou a Palma de Ouro. Foi o festival da anarquia : Godard e Truffaut se penduraram nas cortinas do Palácio do Cinema para impedir a continuação do festival : - Como ver filmes enquanto o mundo pega fogo ? Jean-Luc e François conseguiram; o festival foi interrompido.
IF tem uma frase lapidar : "- UM TIRO BEM DADO PODE MUDAR TODO O MUNDO. " Quem diz isso é o personagem de Malcolm MacDowell. Ele é um estudante rebelde, insolente, culto, sujo, que tenta preservar sua individualidade em ambiente que prega a submissão.
Por hora e meia, vemos todo o horror do sistema de opressão, do homossexualismo imposto, das pequenas fofocas, dos favores interesseiros daquela escola. Vemos o grotesco de seus mestres, de seu diretor, dos jogos de rugby, do jeito marcial de tudo.
E vemos a poesia ( real ou imaginária ? ) que tenta sobreviver em meio aqueles açoites e correntes. A cena da surra é das mais insuportáveis já filmadas.
Em sua meia hora final, tudo muda. O filme se torna surreal, não sabemos se o que vemos é verdade ou delírio. Os 3 rebeldes matam, indiscriminadamente, todo mundo : estudantes, professores, funcionários, religiosos, soldados. Revolução só é possível com sangue, advoga o filme, e se inocentes forem mortos, terão morrido por boa causa.
Lindsay Anderson advoga isso. Tem opinião, tem coragem. Penso se alguém produziria esse filme hoje. Não é um filme underground, Anderson era um dos mais famosos diretores ingleses : propagador do cinema raivoso - "Angry Young Cinema" - e na equipe do filme estão os futuros diretores Stephen Frears e Chris Menges.
O filme é forte. Toca pontos sensíveis de nosso senso de justiça e de dever. Defende teses libertárias, mas de uma forma inglesa : não chega a absoluta negação. Anderson quer a liberdade, Godard quer a destruição.
Podemos dizer ainda que este filme é um anti-SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS. O filme de Peter Weir é a cara dos anos 80 : vai contra um sistema, mas não rompe nenhum limite. Pauline Kael falou bem : "COMO LEVAR A SÉRIO UM FILME QUE PREGA A LIBERDADE, FILMANDO TUDO DE UM MODO TÃO CONSERVADOR ? " O filme de Weir é tristezinho. O de Anderson é irado. Ele prega a liberdade e filma de modo livre. Tudo nele é aspiração a ser novo. Tudo nele é violência.
Maravilhosamente fotografado, soberbamente interpretado, cheio de alusões a Lacan, Ponty e Levi-Strauss, IF... é uma quase obra-prima do cinema revolucionário, um poderoso libelo pelo desejo. Sua última cena, Malcolm metralhando tudo e todos sobre o telhado da escola, a metralhadora em pose de falo, é de um comovente desespero.
Encontrei a palavra : IF... é o desespero.
Ps: Em ano de 2001 / IF... , O Oscar foi para o hiper-conservador OLIVER.
Ps II : Elefante é o IF de hoje. Violência entediada e sem filosofia alguma. UM TIRO BEM DADO MUDA O MUNDO. Elefante prova que não se sabe mais atirar. TIROS A ESMO QUE REAFIRMAM O QUE JÁ EXISTE. O tédio nos matará...
Colégios de elite, ou de pretendentes a ser parte da elite. Eles precisam ser austeros, antigos e disciplinadores. Pois não é fácil ascender na sociedade inglesa. Todos querem um dia ser chamados de "Sir" e melhor, "Lord". Você pode ser rico, poderoso, mas só chegará ao degrau mais alto quando seu título chegar. Lembre que o que doeu, para eles, na morte de Lady Di, foi o fato de ela ter morrido ao lado de um milionário plebeu. E imigrante!!!!!!
Para ascender é preciso se ter estudado numa rigorosa escola britânica. E estudar lá, é ser feito soldado aos 7 anos. Isso fez a glória do império.
Tudo na Inglaterra se subjugava/ subjuga a isso. Todo ator, até Michael Caine surgir, precisava falar como um locutor da BBC, e mesmo as bandas de rock antigas tinham roupas e sotaque eduardiano. ( A excessão eram os Stones. Falavam com falso sotaque americano. ) Com a imigração as coisas mudaram, pouco, pois toda banda inglesa ainda afeta ares de "arte", de ironia nobre, de afetação sangue azul. Balançam o rabo para a rainha.
No festival de Cannes ( aliás ninguém rí mais dessa pose inglesa que os republicanos franceses ), em 1968, IF de Lindsay Anderson ganhou a Palma de Ouro. Foi o festival da anarquia : Godard e Truffaut se penduraram nas cortinas do Palácio do Cinema para impedir a continuação do festival : - Como ver filmes enquanto o mundo pega fogo ? Jean-Luc e François conseguiram; o festival foi interrompido.
IF tem uma frase lapidar : "- UM TIRO BEM DADO PODE MUDAR TODO O MUNDO. " Quem diz isso é o personagem de Malcolm MacDowell. Ele é um estudante rebelde, insolente, culto, sujo, que tenta preservar sua individualidade em ambiente que prega a submissão.
Por hora e meia, vemos todo o horror do sistema de opressão, do homossexualismo imposto, das pequenas fofocas, dos favores interesseiros daquela escola. Vemos o grotesco de seus mestres, de seu diretor, dos jogos de rugby, do jeito marcial de tudo.
E vemos a poesia ( real ou imaginária ? ) que tenta sobreviver em meio aqueles açoites e correntes. A cena da surra é das mais insuportáveis já filmadas.
Em sua meia hora final, tudo muda. O filme se torna surreal, não sabemos se o que vemos é verdade ou delírio. Os 3 rebeldes matam, indiscriminadamente, todo mundo : estudantes, professores, funcionários, religiosos, soldados. Revolução só é possível com sangue, advoga o filme, e se inocentes forem mortos, terão morrido por boa causa.
Lindsay Anderson advoga isso. Tem opinião, tem coragem. Penso se alguém produziria esse filme hoje. Não é um filme underground, Anderson era um dos mais famosos diretores ingleses : propagador do cinema raivoso - "Angry Young Cinema" - e na equipe do filme estão os futuros diretores Stephen Frears e Chris Menges.
O filme é forte. Toca pontos sensíveis de nosso senso de justiça e de dever. Defende teses libertárias, mas de uma forma inglesa : não chega a absoluta negação. Anderson quer a liberdade, Godard quer a destruição.
Podemos dizer ainda que este filme é um anti-SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS. O filme de Peter Weir é a cara dos anos 80 : vai contra um sistema, mas não rompe nenhum limite. Pauline Kael falou bem : "COMO LEVAR A SÉRIO UM FILME QUE PREGA A LIBERDADE, FILMANDO TUDO DE UM MODO TÃO CONSERVADOR ? " O filme de Weir é tristezinho. O de Anderson é irado. Ele prega a liberdade e filma de modo livre. Tudo nele é aspiração a ser novo. Tudo nele é violência.
Maravilhosamente fotografado, soberbamente interpretado, cheio de alusões a Lacan, Ponty e Levi-Strauss, IF... é uma quase obra-prima do cinema revolucionário, um poderoso libelo pelo desejo. Sua última cena, Malcolm metralhando tudo e todos sobre o telhado da escola, a metralhadora em pose de falo, é de um comovente desespero.
Encontrei a palavra : IF... é o desespero.
Ps: Em ano de 2001 / IF... , O Oscar foi para o hiper-conservador OLIVER.
Ps II : Elefante é o IF de hoje. Violência entediada e sem filosofia alguma. UM TIRO BEM DADO MUDA O MUNDO. Elefante prova que não se sabe mais atirar. TIROS A ESMO QUE REAFIRMAM O QUE JÁ EXISTE. O tédio nos matará...