Andei lendo um livro francês do século XVIII. Um poeta menor que não vale a pena citar. Em um de seus poemas satíricos ele discorre ferinamente sobre pessoas que ouvem músicas de cinquenta anos atrás, lêem textos com mais de 10 anos e se vestem como seus pais. Isso em 1725 !!!!
Bom... isso me faz pensar. Desde quando não temos uma bela, ingênua e injusta ruptura ? Um momento em que todo o passado é desvalorizado, destruído, jogado no lixo ?
Em pintura creio que desde Pollock e o expressionismo abstrato, nada surge com o desejo de mudar todo o olhar e transformar Picasso, Miró ou Braque em velharia senil.
Na literatura o último movimento agressivo foi o do Nouveau-Romance de Robbe-Grillet, há já cinquenta anos atrás. No teatro, o Living Theatre aconteceu a mais de quarenta anos e na dança após Merce Cunningham e Martha Graham nada de muito revolucionário surgiu.
O último movimento que tentou destruir alguma coisa do passado do cinema faz cinquenta anos e se chamou nouvelle vague, um movimento que fez muito mais mal ( câmera tremida, roteiro improvisado, atores sem direção ) que bem ao cinema. Mas que teve a coragem de o renovar.
Na música popular a coisa é pior. O jazz nada renova. Seus santos são cultuados ao infinito e nada do passado é criticado. No pop desde os anos 80 que não se agride ninguém, as gerações convivem irmanadamente num corporativismo bom-mocista e anti-rock'n'roll.
Se eu pensar que em 1977 todo disco gravado em 1975 era considerado velharia; que Mick Jagger aos 29 anos era chamado de avô do rock e que em 1984 alguém que tocasse guitarra ou bateria era chamado de saudosista...
Penso que o mercado descobriu que melhor que lançar novas e destruidoras modas, é melhor vender todas as modas : as de ontem e as de hoje, tudo junto ao mesmo tempo e para todos.
Isso acabou com a injustiça de se esquecer dos Kinks ou de se chamar Alex Harvey de ultrapassado. Mas ao mesmo tempo criou uma montanha de lixo que não é recolhido, de dinossauros que nunca morrem, de bandas com 15 anos de estrada que posam de jovens, de trastes que insistem em durar.
Tem gente com 30 anos de idade que não faz idéia do que seja uma barulhenta/ egocentrica e saudável revolução.