Tá na Folha de hoje. A internet cria um tipo de gueto. As pessoas tendem a só lerem o que já sabem, se interessar pelo que já conhecem. Quando voce abre um jornal impresso voce passa por vários assuntos. Muita coisa que aparentemente não lhe interessaria lhe é oferecida. De repente voce pode descobrir algo que não fazia parte de seu mundinho.
No mundo virtual voce fala com pessoas que são como voce, lê coisas que são como as que voce escreve e ouve apenas aquilo que lhe agrada. Seu mundo encolhe.
Dois anos atrás entrei numa comunidade que era formada por cinéfilos. Um lugar, segundo eles, para discutir o cinema. Pois bem, um dia ousei dizer que Psicose não era um filme assim tão bom. Bem... fui expulso do gueto. Em seu mundinho virtual só os iguais existem.
E assim, voce, caro amigo, passa a pensar, alimentado por seus iguais, que Todo Mundo adora aquele cd dos Dandy Warhols, que Todo Mundo está lendo Michael Chambon e que Todo Mundo vota no seu partido. Não meu caro, não. É apenas no seu ínfimo mundinho virtual que as coisas são assim.
Lembro então que se voce queria ouvir música nova, voce tinha que ouvir rádio. E que rádios como a Difusora e a Excelsior tocavam tudo. Tudo. Então eu ligava o rádio para ouvir aquilo que já gostava. Mas era obrigado na espera a ouvir de Benito di Paula à Tavares, de Bad Company à Isaac Hayes. Tim Maia, Ronnie Von e Led Zeppelin. Isso eu chamo de educação.
Leio em outra parte que a única coisa que justifica minha presença na vida é a expansão da minha mente. E essa expansão se dá pelo novo : ouvir uma ópera que voce jamais ouviu, ver um quadro que nunca foi visto, ler um pensamento novo. No mundo das comunidades da internet isso é impossível. Um cara que é como voce irá lhe indicar tudo que te faz continuar sendo voce-mesmo. For ever...