O MAIS PERFEITO DOS FILMES-REAR WINDOW

Raras vezes assistimos a algum filme perfeito. Ocasionalmente o filme pode ser genial, sublime, divertido, mas ele sempre apresenta falhas. Momentos de tédio, tomadas inúteis, frases dispensáveis.
JANELA INDISCRETA não tem um só momento fraco. Desde sua abertura, até seu final perfeito, tudo é feito com precisão, com sabedoria, com maestria.
O som, sem trilha sonora-mas com ruídos e trechos de melodias-que lembra Tati, é perfeito. O cenário, um apartamento e o prédio em frente- é fascinante. As histórias vistas nas janelas e jardins- são tão cativantes que dariam vários outros filmes. Mas este, este filme é absolutamente prazeroso. Torcemos para que não termine.
James Stewart é um fotógrafo solteiro que convalesce com a perna quebrada. Ele é obviamente impotente. Grace Kelly ( sua entrada em cena é A MAIS LINDA IMAGEM FEMININA DO CINEMA ) flerta com ele, o seduz, o conquista. As cenas entre os dois são leves, sofisticadas, cheias de humor e com subtramas de raiva e dor. ( O filme é alegre, mas tem algo de neurótico por trás ). Stewart se agarra em sua solteirice e se envolve com as janelas ( cinemas ? ).
O final, irônico, é de uma riqueza perfeita, e todo o filme prescinde de falas, poderia ser um filme mudo. Stewart agora tem duas pernas engessadas e Grace, linda como o impossível, comanda o apartamento.
Quem mais poderia fazer um filme pop onde as mulheres são víboras, os homens são impotentes e seu único cenário é flagrantemente falso ?
Hitchcock é cinema e o amor à Hitch é a prova final de todo/qualquer cinéfilo.