Todo final de tarde eu olhava aquela janela.
Luz amarelada e um calmo contraste com o barulho da Paulista.
-Quem viveria lá? Aquela casa me dava medo, mas o medo sempre me seduziu e eu ficava parado, frio e noite e solidão, olhando a luz amarela. Eu abraçava meus livros e seguia. Mas a casa me acompanhava e eu a levava para meu quarto onde ela dormia comigo.
Uma manhã eu esperava dentro do carro do meu pai. Meu velho tentava se comunicar comigo mas eu não queria comunicação. Não naquela hora. Escondido detrás daquela janela embaçada, eu esperava que Jeanne saísse da escola. E ela saía sempre a mesma. Empurrando quem estivesse em sua frente, mastigando um eterno chiclete, gritando ordens às amigas, chutando a bunda de alguém. Eu sorria e justificava minha vida absurda. Jeanne fingia não me ver, passava indiferente, voltava e batia no vidro. Ela sorria.
Amei essa cavalinha em cada mulher que encontrei. Percorri toda avenida atrás dela e sei que ela vive atrás de cada janela amarela que me encontra na rua.
Hoje ela não deve mais ser a cavalinha arisca e irrefreada. Mas toda menina que chutou bundas e socou ombros desprevinidos traz sempre em sí o sorriso da rua ensolarada e o segredo da chuva.
A avenida está lá. Jeanne está aqui e eu não esquecí.