avenida paulista

Debaixo do sol, minha careca ardendo, eu e Turco andando pela Paulista.
Adoro aquela avenida, como eu adoro tudo aquilo que é sujo, caótico e surpreendente.
Turco usa uma boina vinho e fala de mulheres. Por não entender nada de mulheres é que adoramos tanto essas coisas estranhas, perfumadas, encantadoras, sinuosas, obtusas, espertíssimas, matreiras, macias, líderes, escravas, borboletosas, choramingonas, dominantes, enraivecentes e solares.
Nada mudou. Um homem sincero sabe que sempre vai pensar sobre as tais mulheres como pensava aos 15 anos. Burramente. Então eu falo do que acho que sei: cinema-música-livros. Mas eu não sei se sei. ( Quem pensar que escrevo isto movido a gim, errou ).
Em frente ao ponto de bus do Objetivo vejo uma menina de camiseta preta onde se lê : Áries! Me apaixono por ela. Ela empurra os amigos, chuta a mochila de um deles, bagunça o próprio cabelo e tem cara de ser ruim e rebelde e desbocada e com joelhos esfolados. Os garotos que a acompanham : um tem um skate, óculos espelhados e camiseta listrada. Cabelo longo, despenteado. O outro usa bermuda de jeans e blusa preta com o Iron Maiden. Os 3 riem, pulam, celebram a saúde de ser jovem, solto, egoísta.
Eu fui a festa na Paulista. Eu era um menino e o Corinthians havia saído da fila. Eu era o garoto de blusa listrada e cabelo longo e jeans rasgado e jeito de " qualé ". Eu me entupia de Led Zeppelin e revistas em quadrinhos. Eu andava de bike e tinha Claudinha, uma menina de cabelo vermelho, jeito de cachorro da rua e cara de " fuck you ".
Turco comentou o péssimo gosto que existe em se gostar do Iron.
Mas isso não importa. O que me pega é saber que EU continuo por lá, na figura daquele trio, na cara da ariana-irascível-inatingível e nos garotos rindo e pulando como potros.
Subo no bus me sentindo oitenta quilos mais leve e trinta anos mais novo. A Paulista é um lixo. Mas é nela que eu sempre vivo.