EXISTE OUTRO EU ?

É possível, de alguma forma, deixar de ser voce mesmo ?
Um homem está no deserto. O que ele faz alí não tem grande importância. Então, ele tem a chance de ser outro. Conseguirá ? Vale a pena ?
Em nossa vida relações terminam e sobrevivem por causa disso. Voce quer ser outro. Mas aquela pessoa, todo o tempo, recorda quem voce é. Voce se afasta, tenta ser diferente. Ou... voce ama aquela pessoa porque ela lhe recorda quem voce é e quer continuar sendo.
Relações são perigosas porque é muito difícil um amigo aceitar que possamos ser outro. Ele tenderá a pensar que mentimos agora ou que mentimos antes.
Pois esse homem ( Jack Nicholson ) começa a traficar armas. É a identidade que lhe coube. Rimbaud traficou armas e isso não é uma coincidencia. Rimbaud foi o maior dos isatisfeitos. Foi do extremamente dandy- poeta-espiritual ao extremado-bandido-cigano-ação.
E as imagens desse filme ( sim, é um filme, e sempre são imagens belas ) nos mostram janelas com grades, gaiolas, cães encoleirados, estradas bloqueadas. E o homem ( Jack ) não consegue ser outro.
A conclusão é a de que morremos para ser outro. Morremos para deixar de ser. Pois por mais que nos mudemos para outro país, por mais que refaçamos novas amizades, mudemos de emprego, seremos sempre o que podemos ser : o que somos.
A reichiana e muito má atriz Maria Schneider ( e fascinante ela foi/é ) representa a chance que a juventude tem de ainda se criar. Mas os muito jovens não possuem vivencia para isso e acabam sendo um quase nada, um sopro.
Não aconselho ninguém a ver este filme. Ele é árido, lento, modorrento.
Eu o adoro. É cinema como pensamento, como tese. Ele não te diverte ou emociona, ele te ensina e muito. Te dá cultura. E cultura, veja só menino, não é informação!!!!
Ah sim... o filme é The Passenger, do Antonioni ( não há diretor mais fora de moda ) e Jack está dando show ( consegue passar da impassibilidade para a total confusão ).