vômito

Na noite da festa ela era a menina loira que diziam que me amava.
Quando criei coragem e me aproximei dela, antes de qualquer palavra ela vomitou no meu tênis. Um vômito vermelho, de vinho barato.
Um amigo a levou, envergonhada, enquanto eu percebia que o vômito atingira minha calça também.
Entrei na roda que se formara na rua e fiquei balançando minha cabeça ao ritmo de Ace of Spade, do Motorhead. Quem nunca balançou a cabeleira molhada de suor ao som do Motorhead jamais viveu de verdade.
Ao fim da noite, eu estava meio zonzo de sono, frio e vinho barato. Então o amigo da menina veio me chamar. Eu estava de carro ( eu era o único maior de idade alí ). - Será que eu podia levá-la em casa ?
Fomos os 3, ela quase desmaiada.
Os pais não estavam, o irmão estava no vizinho, fiz café bem forte. Bom, quando voltei pra sala, o amigo da menina já tirara parte da roupa dela. Eles se conheciam desde crianças e ele era gay, então tudo ok...mas eu nem sabia o nome dela direito! Tudo que conhecia era seu suco- gástrico.
Ligamos o chuveiro e encharcamos sua lingerie ( meninas usam lingerie, quero dizer, calcinha e soutien de algodão branco é lingerie ? ). Ela gemia, chorava, balbuciava. Ele a enchugou.
Depois a deitamos no sofá e ela bebeu o café muito amargo e muito quente.
Fiquei segurando sua mão pequena e muito branca. Ela, às vezes, abria os olhos verdes e me olhava. Apertava minha mão e voltava a dormir. Lhe arrumava o cabelo na testa.
Fui embora quando amanheceu.
Até hoje, tanto tempo depois, segurar a mão de uma menina bêbada é a imagem do amor perfeito. Para mim sempre vai ser.
Começamos a sair e eu estraguei tudo. Fui realmente ruim com ela. Bom...eu era muito jovem, muito vaidoso, muito idiota.
A reencontrei anos mais tarde, casada e gorducha. Não havia o que falar. Ela não era mais a menina bêbada, eu não era o fazedor de café amargo.
Mas ela fica neste lugar, fica para sempre naquela madrugada fria e de sono atrasado. Ela permanece como imagem e como vômito de vida, como balançar a cabeça sem nenhum controle, como fé e como esperança irrealizada.
Ela permanece bonita.