NUNCA OUVI E NÃO GOSTO PORQUE ME DISSERAM QUE É RUIM. ( O NARIZ DELE É UM HORROR ). EXIT...STAGE LEFT...O DIA EM QUE CAÍ NA REAL

Ah o preconceito....nós não nascemos com ele. Alguém nos ensina a desenvolver preconceito. Eu sempre odiei o grupo canadense RUSH. Isso desde pelo menos 1978. Lembro que meu melhor amigo na época tentou me fazer ouvir o 2112. Muito contra a vontade eu ouvi dois minutos e parei. O grupo era tudo aquilo que eu deveria desprezar: era meio hippie. Era prog. Não era nem black e nem new wave. Pior, nenhum crítico que eu lia falava bem do RUSH. Muito pelo contrário, eles detestavam os caras. --------------- Ezequiel Neves, meu guru, dizia que Geddy Lee parecia um pernilongo zumbindo em seu ouvido, e pior que tudo, eles eram, como toda banda prog, horrivelmente assexuados. Não tinham ginga, não sabiam dançar, eram a coisa mais anti Rolling Stones do mundo. Só babacas ouviam RUSH. Fim de papo. Outros críticos diziam que eles eram cópia infantil do YES. Sub música prog. Lixo pretensioso. Então, com tanta coisa contra, óbvio que eu criei por Geddy Lee e seus amigos uma aversão indestrutível. Junto ao Black Sabbath eram eles a pior coisa do rock. Só idiotas ouviam RUSH. E eu era culto e chique. Eu tinha bom gosto. Portanto eu escutava Bowie, Roxy Music e Kinks. Não dava pra ser mais classudo que eu. ----------------------- Uma matéria gringa dizia, em 1981, que eles eram a banda mais feia do mundo. Roupas péssimas. Rostos horrendos. Nem o Sabbath ou o Uriah Heep conseguia ser tão anti glamour. Eu ria deles. ----------------- Bem....voce já entendeu que vou falar bem dos caras não é? E voce vai perguntar: Mas porque voce mudou de opinião? E eu te respondo: Eu ouvi a banda. Após mais de 40 anos falando mal sem ouvir, eu resolvi escutar. O que me fez escutar? Eles viraram cult? Não! Claro que não. Foi apenas ve-los no Rock n roll hall of fame. Me deu curiosidade. Ao contrário do que eu pensava, eles me pareceram modestos. boa gente, easy going. E ao contrário do que a crítica dizia, não sumiram na história, não foram esquecidos, não eram ouvidos só por idiotas. Então ouço todos o seus discos gravados entre 1976-1982. E quer saber? Adorei. ------------------ Paro pra falar do disco ao vivo de 1981, este EXIT...STAGE LEFT. São mais de hora e dez de som. E não há um só minuto de tédio. Não lembram YES em nada. Na verdade nem são tão prog. Eles ficam na margem entre prog e o velho hard rock. O tipo de composição deles é cheia de meandros, é interessante. E muito bem tocada. Lee é um dos grandes contra baixos da história e Neil Peart, embora não seja o tipo de batera que gosto, é irriquieto, vulcânico, ao estilo Buddy Rich. Já Alex Lifeson é ótimo, mas some no meio dos dois mais cheios de brilho. O vocal? Sim, é um pernilongo. Mas quer saber? E daí? Funciona na riqueza sonora da banda. XANADU é uma maravilha de tão bonita. Mas YYZ, RED BARCHETTA, THE TREES, tantas outras, são tão belas quanto. O trio procura apenas isso: fazer música bonita. E eles têm o dom para isso. --------------------- O rock progressivo é música de quem conhece música clássica e por isso ele nasceu na Inglaterra e não nos EUA. Observe que progressivo nos EUA seria entendido como algo tipo jazz rock ou Frank Zappa. Americanos sempre revelerão sua raiz jazz ou blues. Não tem como. E isso é provado pelos dois movimentos mais fortes dos anos 70: o prog e o heavy metal. Nenhum dos dois tem grandes representantes nos USA. Isso porque na América a música clássica nunca foi tão "natural", "tão caseira" como era na Europa. ------------------ Heavy Metal? Sim. No Metal autêntico sempre há algo da melodia clássica ou da grandiloquência da ópera. O primeiro disco do Sabbath parece uma versão made in Newcastle de Mussorgski. E tanto Iron Maiden como Rainbow podem ter toda sua obra transferida para versão orquestral. Guitarras que correm como violinos e vocais que procuram o canto operístico. --------------- Rock pesado nos USA sempre foi Alice Cooper, Van Halen ou Aerosmith, e todos são na verdade blues com peso. Quando vem a geração Metallica e Megadeth já há uma mistura na coisa. São filhos do heavy inglês. ------------------- No prog a coisa é ainda mais braba. Não há rock progressivo sinfônico nos EUA, Fim. Um moleque inglês, nos anos 50, ouvia Beethoven na BBC TV, ouvia o pai sintonizar Bach na BBC RADIO e tinha aulas de música an escola pública. Quando formavam bandas ao estilo rock americano, cedo ou tarde enfiavam coisas de Mozart ou Haydn na mistura. O prog foi o cúmulo disso. Rock sem raiz no blues e nem no country. Era instrumental mas não era jazz. Era rock mas não dançava. Nada podia ser mais "estrangeiro" aos ouvidos dos californianos. E nada podia ser mais familiar a italianos, canadenses ou argentinos. -------------------- Acabei por me alongar, mas penso que neste ano, em que ouvi muita música erudita, ouvir RUSH e gostar é consequência natural. Eles realmente não têm nada de sexy. Mas são "interessantes". Não é pouca coisa. E produziram beleza. E isso é tudo.